Não me lembro de um tempo em que não gostasse de ler. Na formatura do Pré (ou Alfabetização, ou CA), fui a oradora da turma. Com o tempo, viajar nas letras passou a ser um dos meus brinquedos preferidos.
Quando chegou aquela época em que a escola começa a cobrar a leitura de trocentos paradidáticos por ano, todos voltados para o vestibular, achei ótimo. Foi nessa época que conheci Machado de Assis, primeiro em Memórias Póstumas de Brás Cubas (um dos meus livros favoritos até hoje), depois em Dom Casmurro, Quincas Borba e outros textos. Foi paixão instantânea.
(É dessa época, também, meu horror a José de Alencar, mas isso já é outro assunto.)
Por gostar tanto desse que que por muitos é considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos, e um dos maiores do mundo, é que achei estranho o centenário da morte de Machado passar em brancas nuvens. Foram poucas as movimentações em torno da data (precisamente, 29 de setembro). Claro, a FLIP 2008 o homenageou, mas a minha impressão (como quem não esteve na FLIP, diga-se) é que os estrangeiros – Neil Gaiman e tal – foram as estrelas.
Talvez por estarem vivos, é verdade. Talvez porque muita gente ainda pensa que só o que vem de fora é que é bom. Talvez porque somos um povo que lê quase nada e que acredita que Paulo Coelho é um excelente escritor – está até na Academia Brasileira de Letras (ah, se Machado visse isso… imagino o que não escreveria a respeito). Talvez porque não dê dinheiro falar de Machado.
Felizmente, uma excelente iniciativa governamental deu algum alento: é o site Machado de Assis – Obra Completa, hospedado no portal do Ministério da Educação. O endereço reúne os textos machadianos (inclusive alguns pouco conhecidos, como poesias e traduções) e os oferece ao público em pdf ou html, gratuitamente. Também traz, entre outras coisas, uma biografia e vários ensaios sobre a obra de Machado, disponíveis para download.
Enquanto o maior best-seller de todos os tempos da última semana custa, digamos, cinquenta reais, você pode baixar todos os livros de Machado de Assis ao custo de um poucos cliques. Que tal, pra variar, dar uma chance a um clássico da literatura universal? Sem preconceitos, sem dizer “ah, é difícil”, sem preguiça. Você vai se surpreender.
Se o problema todo é que ler no computador é cansativo, não se preocupe: os livros de Machado de Assis já estão em domínio público, o que significa que suas reimpressões são baratinhas, em qualquer livraria perto de você.
Serviço
- ABL – MAchado de Assis
- Citações de Machado de Assis – Wikiquote
Imagem: Machado de Assis – Obra Completa.
“Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Inesquecível… a última frase do livro foi a mais marcante frase que eu já li até hoje.
É uma pena que ainda não exista o leitor “perfeito” de livros eletrônicos.
Se você acha que o centenário de Machado de Assis passou em brancas nuvens (e não foi tanto assim, basta dar uma olhada nas bancas), na qualidade de outro apaixonado por letras lamento mais ainda que o centenário de João Guimarães Rosa nem sequer tenha sido cogitado pela mídia!
Paciência. Coisas de “mundo moderno”.
Aliás, cá entre nós (e não espalhe, hein) também ODEIO José de Alencar… 😉
“…Que a terra lhes seja leve”, uma das frases mais marcantes pra mim.
Foi o que disse Bentinho sobre Capitu e Escobar no final de Dom Casmurro.
Eu já gosto do José de Alencar, “Senhora” é muito bom!
Obrigada pela dica!!!
Lu
Eu adorei “Mémórias Póstumas…” Lembro desse livro na minha infância como se fosse hoje.
Ah! Bons tempos aqueles!…
Baixei a coleção completa 🙂
Eu sempre tive vontade de ler Memórias Postumas, mas sempre esqueço de comprá-lo quando vou comprar novos livros.
Obrigada pela dica!
Eu adoro Machado, adoro Memórias Póstumas e gosto muito do José de Alencar também. Acho que tive a sorte de ter sempre convivido em ambientes onde a leitura era estimulada, então sou que nem você, não sei mais identificar quando comecei a gostar de ler.
Bjs!
Muito bem lembrado, Lu. “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é mesmo fantástico, imperdível, maravilhoso e muito mais! José de Alencar eu até curto, mas é uma outra viagem. Agora, Paulo Coelho… o problema é que falar mal dele acaba te indispondo com as pessoas. Parece até praga daquele bruxo de meia tigela. Uma vez uma francesa, sabendo que eu era brasileira, veio me dizer encantada, que adorava esse camarada, e perguntou minha opinião. Juro que não aguentei e disse que a editora dele na França deve ter contratado um ótimo tradutor, porque ele não sabe escrever em português (pior que eu li as primeiras edições dele, sem a faxina/revisão que fizeram nas seguintes). E ortografia e gramática são os menores problemas desse cidadão, que acha que é escritor. Essa foi só uma das inimizades para o resto da vida que arrumei por causa desse assunto. Fazer o quê?
Beatriz, a minha teoria é igualzinha: o cara deve ter ótimos tradutores ao redor do mundo! 😉
Também li as primeiras edições de dois livros dele. Não sabia que tinham feito faxina nas seguintes!
Disse-o bem o humanitista Quincas Borba: Ao vencedor as batas. Questão de sobrevivência..ou não é assim mesmo? Acho que faz sentido.
Feliz Natal a todos!