Síndico? Senhor Feudal, isso sim.

Tem síndico que vai se elegendo ad infinitum e, com o tempo, acaba se achando o dono do prédio. O do meu é assim – e descobri isso da pior forma. Senta que lá vem a história…

Sexta passada, chamei instaladores de rede de proteção para janelas. Os caras foram pela manhã, fizeram todos os furos, mas a anta aqui informou a metragem errada e o pedaço de rede que eles levaram não serviu. Ficaram de voltar à tarde.

Eu estava no trabalho e ligou minha faxineira, informando que o síndico não autorizou a subida do instalador. Como assim, Bial? A casa é minha (sou locatária, na verdade, mas o direito de propriedade é todinho do inquilino), quem tem de autorizar sou eu. Liguei pra portaria pra falar com a criatura.

Bem, dizer que ele foi grosseiro não é o suficiente. O cara já atendeu o telefone com a voz alterada. Disse que, pela convenção de condomínio, eu não podia instalar as redes, e que só as grades acordadas em assembléia estavam autorizadas. Perguntou pra que eu queria a rede. Eu disse “para proteger a minha gata”. Aí o sujeito se alterou de vez. Começou a esbravejar que eu estava violando a convenção de condomínio, que ia me denunciar pra imobiliária e pedir o meu despejo, blá blá blá. Ficou fulo da vida quando eu disse que o imóvel não está na mão de imobiliária, que alugo direto de proprietária e me dou bem com ela. Espumou (eu não vi, mas imagino) quando falei que a convenção é clara, admitindo animais que não perturbem o sossego, a segurança ou a salubridade dos demais moradores.

Falei que ele que me acionasse judicialmente se estivesse insatisfeito.

Lá pelas tantas, fiquei muda, enquanto ele gritava que não ia me acionar coisa nenhuma e que estava proibindo a subida do instalador. E desligou na minha cara, obviamente.

Liguei para o instalador e pedi mil desculpas. Ele disse que entendia, que isso já tinha acontecido antes, e acrescentou que “o síndico só não precisava ter sido tão estúpido”. Não precisava, mas tem gente que usa ferraduras, fazer o quê?

Falei com minha faxineira, e disse pra jamais deixar alguém entrar no apartamento sem a minha autorização. Vai que esse síndico maluco tenta fazer algo com a Mel?

Quem não entende a angústia não tem animais, ou pouco se importa com eles, ou nem está ligando para a paz dentro do seu próprio apartamento.

Imagina se o seu animal de estimação é ameaçado? Imagina se você sofre ameaça de despejo (ainda que sem a menor validade jurídica)? Imagina ter a sua autoridade dentro da sua casa completamente desrespeitada, num claro abuso de poder?

Agora, imagina  saber que o crápula mora no seu prédio e pode dificultar a sua vida no dia-a-dia?

Ainda na sexta-feira passada, passei um email para a proprietária do apartamento e contei o caso todo. A resposta chegou ontem, segunda-feira: “Fique tranquila, estou do seu lado, você está com a razão”. Suspirei aliviada – porque, afinal, se ela resolvesse pedir o apartamento, estaria no seu direito (o contrato de aluguel vence mesmo no mês que vem, nem seria preciso rescindi-lo).

As questões legais envolvidas:

  • Nenhum, repito, nenhum condomínio pode proibir a manutenção de animais de estimação dentro do apartamento, desde que não prejudiquem a saúde ou a segurança dos demais condôminos (até o sossego é mitigado: há várias decisões reconhecendo o direito do morador em manter poodles e outros animais muito mais barulhentos que gatos).
  • A convenção do meu condomínio realmente autoriza animais de estimação.
  • O regimento interno proíbe e comina pena de multa progressiva.
  • A convenção de condomínio é superior ao regimento interno.
  • A lei federal que regula condomínios (Lei nº 5.941/64), o Código Civil e a Constituição garantem o direito de propriedade, que inclui a posse de animais de estimação. Tais normas se impõem sobre qualquer convenção condominial.
  • A jurisprudência ampara a permanência de animais em apartamentos.
  • Quanto às redes de proteção, o site Síndico.net, criado para – adivinha? – orientar síndicos, afirma categoricamente que redes de proteção não constituem alteração na fachada. A lei confirma (alteração na fachada quer dizer mudança na cor ou na forma, segundo a lei)  e a jurisprudência é escassa, mas vai no mesmo sentido.

O resumo da ópera:

  • Mel não vai pra rua nem por decreto real. Não vou devolvê-la a abrigos ou feiras de adoção.
  • Vou entrar com o instalador qualquer dia desses, direto para o meu apartamento, e colocar a bendita rede. Até lá, janelas fechadas (como têm ficado desde que adotei a Mel).
  • Quando/se vier a multa condominial, ingresso no Juizado Especial – e ganho, claro.

Por que estou contando tudo isso aqui?

  • Porque esse blog é sobre gatos e esta é uma chance de orientar gateiros que tenham os mesmo problemas.
  • Para que você saiba que ninguém pode impedir que você tenha animais de estimação. Não abra mão do direito de conviver com seu animalzinho. Não o abandone ante a primeira dificuldade.

Um agradecimento especial à Débora, do site Protetores Voluntários, que prestou informações importantes e permitiu o uso, caso seja necessário, de ótimo parecer jurídico sobre o tema.

Conforme o caso for seguindo, atualizo as notícias.

Presente de Natal

Ano passado, meu presente de natal chegou cedo. Veio sem aviso e sem preparativos, embora fosse desejado há anos. Entrou na minha casa embrulhado em manta azul, mas via-se a carinha branca e rosada.

Esse presente depende de mim para sobreviver, e já não imagino a casa sem ele.

Sim, é um serzinho. Ou melhor, uma serzinha. Ela tem focinho molhado, rabo comprido, patinhas cor-de-rosa e pelo quase todo branco, exceto por uma manchinha na testa. Cresce a olhos vistos. Esfrega-se nas minhas pernas e dá beijinho de esquimó quando chego do trabalho. Dorme sob a minha coberta e rouba-me o travesseiro de madrugada. Chama-se Mel e, você já percebeu, é uma gatinha.

Mel chegou tímida e medrosa, além de muito carente. Um mês depois, é uma mistura de pipoca com carrapato.

Quase dormindo - só nessa hora fica quietinha.
Quase dormindo - só nessa hora fica quietinha.

Minha gatinha não é uma simples “companhia”, como tantos reduzem a relação com um animal. Companhia é a televisão, o computador ou um bom livro. Mel é um ser único, tem seus quereres, sua personalidade e, agora, conta comigo para mantê-la feliz.

Encaro-a de vez em quando e, por instantes, não acredito que assumi tamanha responsabilidade. Logo eu, a rainha má das plantas, a dedo-cinza dos vasinhos de temperos.

Ela me tira do sério duas vezes por dia, é verdade. Ignora meus nãos, atrapalha meu sono, espalha areia pelo chão e derruba meus enfeites.

Depois, olha-me com ares de “quero colo”, aninha-se, toma banho e adormece tranquila. Todo aborrecimento se vai, e descubro-me amando uma criaturinha quente e ronronante.

Escrito primeiro para o moleco viajante.

A Gateira e suas Gatas

Primeiro, veio a Mel, arteira e maluca. Depois, a Cacau, elegante e gentil. Para não cair na tentação de transformar meu blog oficial num blog gateiro, criei o Cadê o Atum?, batizado por uma garotinha adorável e tal.

As gatas, que se acham minhas donas, falaram que não iam ficar de fora – afinal, o blog é sobre elas! Só sossegaram quando também ganharam o direito de escrever por aqui.

Junte-se a nós nessa aventura pelo mundo dos miados e patinhas. Você pode até ouvir uns fssst e uns crash! de vez em quando, mas os puurrrr e ron-ron-ron são maioria absoluta.