Alguém (Vinícius de Moraes, segundo alguns, mas o texto não consta de suas antologias, então acredito mais na versão que o atribui a Garth Henrichs) já disse que enlouqueceria se todos os amigos morressem. Eu também. Dou um valor enorme à amizade. Talvez por não ter irmãos e tentar, com os amigos, resgatar alguma coisa que me dá saudades, ainda que nunca tenha existido. Talvez, simplesmente, porque gosto deles.
Já fiz e perdi muitos amigos pelo caminho. Mudando de uma cidade para outra, fui perdendo contatos. Umas poucas amizades resistiram ao tempo e às várias mudanças de endereço. Conversamos pouco, vemo-nos quase nunca, mas reconhecemos que existe carinho e afeição. Penso que esses amigos perdurarão até o fim dos meus dias.
Algumas amizades foram bruscamente interrompidas. Terminaram com discussões, brigas, mal-entendidos. Pessoas que eu acreditava que caminhariam ao meu lado por toda a vida viraram-me o rosto. Restaram apenas lembranças e cicatrizes.
Um ou outro mostrou-se mesquinho e interesseiro. Alguns me traíram e fizeram-me duvidar da amizade verdadeira.
Certas pessoas foram amigas-de-uma-estação, o que não é exatamente mau. Ao seu modo, os que caminham apenas poucos metros conosco são tão importantes quanto aqueles que percorrem a estrada inteira.
Alguns amigos ainda moram na mesma cidade, mas mal nos falamos. Sei como encontrá-los, se precisar. Eles também sabem como me achar. O contato não é mais intenso, porque os caminhos tornaram-se distintos. São amizades em forma latente. Têm uma importância imensa: o simples fato de saber que eles existem já me faz sorrir.
Há os amigos a quem procuro com mais frequência, telefono, troco confidências constantes. Não me refiro a simples colegas de baladas, mas a pessoas que já provaram sua amizade com seu companheirismo e com o ombro quando precisei. Talvez, um dia, nosso convívio não seja tão constante como hoje. Talvez se tornem amigos latentes. Quem pode dizer o que acontecerá?
Tenho os amigos “virtuais”, que fiz pela rede. Assim mesmo, entre aspas, porque não concordo com a expressão. A comunicação pode, sim, ser virtual. Emails, mensagens instantâneas, comentários em blog. A amizade, no entanto, é muito real, presente e concreta. São amigos com quem desabafo, de quem tomo conselhos e a quem ajudo quando precisam. Tão amigos quanto os que vejo e com quem falo cara a cara.
Quando achava que não fosse conhecer mais ninguém no mundo (um momento para o drama, por favor), surgiu-me a oportunidade de encontrar gentes novas por aí. Pessoas que, em pouco tempo, provaram-me que a vida sempre nos reserva agradáveis surpresas. Empatia quase imediata. Surgiram num momento ruim e deixaram claro que era apenas isso – um momento.
Independentemente de quando e como apareceram, independentemente de estarem ao meu lado ainda hoje ou não, cada pessoa a quem já chamei de amigo foi importante. Aprendi com cada um deles. Algumas lições foram dolorosas demais. Outras foram passadas em momentos de partilha, alegria, amor. Todas válidas, todas imprescindíveis para que eu crescesse.
Se continuo crescendo, é graças àqueles a quem posso chamar de amigos, hoje. A vocês, queridíssimos, meu amor e meu voto de Feliz Dia do Amigo. Minha vida não seria a mesma sem vocês.
Publicado na primeira encarnação do Dia de Folga, há exatos cinco anos. Atual como sempre.