Nós, que conhecíamos tão bem um ao outro, somos hoje perfeitos estranhos. Horas poderiam ser gastas falando sobre tudo que nos aconteceu, e não bastaria. Eu poderia tecer metáforas, digressões e teorias, e ainda assim não seria suficiente. Estamos a léguas de distância um do outro – e, paradoxalmente, a poucos minutos.
Tanto tempo eu precisei para entender o que você me disse naquele dia. Foi preciso ir tão longe para entender teu olhar, naquela tarde, quando retruquei com uma verdade em forma de piada. Tua resposta veio nos olhos, tão contraditória que simplesmente não entendi. Somente quando um outro alguém me disse o mesmo, pude perceber como passei longe da tua verdade naquele momento, e como devo ter te ofendido com a tal piada.
Cheguei ao mesmo ponto que você, e não queria estar aqui. Preferiria um mundo menos cinza, menos irônico e autodefensivo. Só que não é uma questão de escolha. Nunca foi.
Hoje, caminhamos na mesma direção, solitários. Juntos, mas afastados. Não poderia ser de outro modo. Jamais seria.
E penso em estender-te a mão de vez em quando, mas é impossível. Sou como você, agora.
Mesmo caminho. Estradas diversas.
Adeus, ou até qualquer dia.
Escrito em setembro de 2005.