Manias

A Kika e a Vanessa me passaram o dever-de-casa na semana passada. E eu já tinha visto no blog da Honey.

Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que o diferenciem do comum dos mortais. E, além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogs aviso do ‘recrutamento’. Ademais, cada participante deve reproduzir este ‘regulamento’ no seu blog.

1. Meus cds são estritamente organizados. Separo em Nacionais, Internacionais e Trilhas Sonoras. Tem uma outra categoria, a “Diversos” – cds de música clássica, religiosa, tango e salsa fazem parte dessa sessão, dentre outros. Dentro de cada divisão, a organização dos títulos é em ordem alfabética. Quando recebo visitas, deixo que banquem os dj’s, com a recomendação enfática de não retornar os cds para as torres ( parece coisa de biblioteca – “favor não recolocar o livro na estante” ). No fim da festa, confiro se cada cd está em sua caixinha apropriada e só então guardo no lugar certinho. Por causa disso, já disseram que sou obsessiva-compulsiva.

2. Eu mordo os lábios, o tempo todo. Fico arrancando pelinha. Culpa de Brasília, que tem um clima seco a ponto de rachar os lábios. Só que a mania se perpetua durante os meses de chuva. Tento arduamente controlá-la, já que é feia e produz um resultado mais feio ainda. Haja manteiga de cacau.

3. Msn. Se estou na internet, estou com o msn ligado. De vez em quando, dou uma olhadinha em quem está online e nas alterações de nicks. Os meus nicks sempre são um trecho de música que tenha a ver com meu dia, ou simplesmente que eu tenha ouvido de manhã, no rádio.

4. Música no carro. Detesto dirigir sem música. Fico estressada, xingo, reclamo. A música acalma as feras. Em casa, ou o aparelho de som ou a televisão têm de estar ligados. Necessidade constante de barulho.

5. Números. Todo mundo tem alguma mania envolvendo números. O volume da tevê sempre fica em número par – o do som também. E tenho uma ligeira mania de contar sílabas de frases. Não de todas, só das que eu acho que têm exatas sete sílabas. Se esse é o caso, acabo recontando uma, duas, três vezes (ok, essa é minha mania mais esquisita, acho – e era segredo até hoje). Talvez um dia eu comece a escrever haikais.

Pronto. Missão cumprida. Não vou indicar blogueiros para passar a tarefa, não. Quem passar por aqui e quiser fazer a brincadeira, sinta-se à vontade.

A um ex-amigo

Nós, que conhecíamos tão bem um ao outro, somos hoje perfeitos estranhos. Horas poderiam ser gastas falando sobre tudo que nos aconteceu, e não bastaria. Eu poderia tecer metáforas, digressões e teorias, e ainda assim não seria suficiente. Estamos a léguas de distância um do outro – e, paradoxalmente, a poucos minutos.

Tanto tempo eu precisei para entender o que você me disse naquele dia. Foi preciso ir tão longe para entender teu olhar, naquela tarde, quando retruquei com uma verdade em forma de piada. Tua resposta veio nos olhos, tão contraditória que simplesmente não entendi. Somente quando um outro alguém me disse o mesmo, pude perceber como passei longe da tua verdade naquele momento, e como devo ter te ofendido com a tal piada.

Cheguei ao mesmo ponto que você, e não queria estar aqui. Preferiria um mundo menos cinza, menos irônico e autodefensivo. Só que não é uma questão de escolha. Nunca foi.

Hoje, caminhamos na mesma direção, solitários. Juntos, mas afastados. Não poderia ser de outro modo. Jamais seria.

E penso em estender-te a mão de vez em quando, mas é impossível. Sou como você, agora.

Mesmo caminho. Estradas diversas.

Adeus, ou até qualquer dia.

Escrito em setembro de 2005.

Très vite

Os seres humanos se dividem entre os que gostam de Toddy e os que preferem Nescau.

A preguiça é a mãe de todos os vícios – mas mãe é mãe, e devemos respeitá-la (“sabedoria” popular).

O mundo é mesmo tão complicado quanto parece? Ou somos nós que complicamos tudo?

É mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro (essa é do Zeca).

Se nos é dada a benção de ignorar o futuro, por que não temos a graça de esquecer o passado?

Solidão é o que você sente depois de passar uma semana cercada de gente. Quase uma síndrome de abstinência.

Lembra?

Você se lembra? Existiu um tempo em que tudo era simples.

Quando você caía, sempre havia um adulto amoroso por perto. O carinho acalmava o choro e o mercúrio-cromo curava o esfolado. Hoje, você ainda cai e chora, só que não há mais colo e as feridas não cicatrizam.

Você se lembra? Antigamente, partilhava os brinquedos por duas horas com o vizinho e ele se tornava seu melhor amigo. Hoje, partilha anos de convivência antes de atribuir a alguém esse título; às vezes, nem assim.

Lembra quando contava os seus segredos para a coleguinha da escola? Você foi aprendendo, à custa de muitas decepções, que as pessoas não são confiáveis. Descobriu que elas exploram as suas fraquezas e traem os seus segredos. Dissimulam. Trapaceiam. Mentem.

Você também descobriu que ninguém gosta dos fracos. E isso lhe deu força. Descobriu que os outros se aproveitam de quem fala o que sente. Isso incentivou-lhe a frieza.

Lembra quando você corria para o telefone e desabafava com uma amiga querida? Hoje, você pega o telefone e não disca, porque sabe que ela também tem problemas e não quer aborrecê-la com os seus. Ou, simplesmente, porque as crianças estão dormindo e o barulho da ligação as acordaria.

Lembra quando chorava no primeiro ombro que se oferecia? Hoje, é difícil chorar até quando ninguém está vendo.

Lembra que costumava achar que as suas aflições eram as maiores do mundo? Hoje, você racionaliza: tem família, amigos, casa, emprego, dinheiro. Seus dramas são tão insignificantes. Na verdade, são mesmo inexistentes. Tudo não passa de bobagem. Você só quer chamar a atenção.

Você se lembra de quando não se sentia tão só no mundo?