Claro Curtas: Diversidade e Inclusão

Responda a duas perguntinhas:

  • Você tem criatividade?
  • Gosta de discutir temas relevantes?

Se respondeu “sim” às duas questões, o festival Claro Curtas é uma ótima chance de mostrar talento, falar sobre assuntos importantes e, de quebra, concorrer a prêmios.

Para participar, você deve fazer e enviar até o dia 20 de outubro um vídeo com duração entre 30 e 90 segundos cujo tema seja Diversidade e Inclusão:

DIVERSIDADE: a procura e garantia do acesso universal, da igualdade e da equidade de oportunidades, na perspectiva dos Direitos Humanos. Não discrimina, mas promove as diferenças,transformando-as em uma vantagem, um valor, uma oportunidade e um direito.

INCLUSÃO: a garantia de respeito e incorporação das identidades sociais, culturais, afetivas, étnicas, de gênero e físicas de todos, por meio de um processo de diálogo e aprendizagem e da construção de novas formas de convívio, a partir da singularidade dos sujeitos, ampliando o significado de acesso e participação.

A inscrição é gratuita e você pode enviar até três vídeos. Pra filmar, vale usar até câmera de celular. O que conta é o cuidado com o tema e a criatividade. Na comissão julgadora, gente de peso como José Padilha. Entre os prêmios, 50.000 reais em barras de ouro para o primeiro colocado, e um workshop em São Paulo para os vinte primeiros. Dê uma olhada no regulamento para ver os detalhes.

O tema da acessibilidade já passou pelo Dia de Folga e deveria ser uma constante não só para quem trabalha com internet, mas para qualquer profissional. O médico deve pensar na facilidade de acesso ao seu consultório, o dono de restaurante precisa ter banheiros adaptados e, claro, engenheiros e arquitetos fazem apenas sua obrigação ao incluir em seus projetos, além de técnica e beleza, itens inclusivos como rampas.

Óbvio que as definições de diversidade e inclusão propostas pelo festival dão margem a vários outros desenvolvimentos… use sua imaginação, ponha mãos à obra e boa sorte!

Democracia É Isso

Justamente no sábado de lançamento da Feed-se Especial – Democracia, recebi por email um comunicado urgente escrito pelo fundador da rádio online Pandora: Traduzo:

Após um ano de negociações, Pandora, artistas e gravadoras finalmente estão otimistas sobre conseguirem um acordo de direitos autorais que salvaria Pandora e a rádio online. Mas logo quando estamos tão perto, grandes radiodifusoras tradicionais iniciaram uma campanha lobista para sabotar nosso progresso.

Ontem, o congressista Jay Inslee e diversos co-patrocinadores introduziram uma legislação para dar-nos o tempo extra que precisamos, mas a Associação Nacional de Difusores (AND), que representa os difusores de rádios como Clear Channel, iniciou intensa pressão sobre os legisladores para que matem a proposta. Temos apenas um dia ou dois para impedir seu colapso.

Trata-se de uma tentativa ostensiva das grandes companhias de radio para sufocar a indústria de transmissão via web que apenas começa a oferecer uma alternativa ao seu monopólio.

Por favor, telefone para seu representante no Congresso agora mesmo e peça-lhe que apóie a proposta (…) e que não se renda à pressão da AND. O Congresso está fazendo hora-extra, então até os telefonemas feitos à noite e durante o fim-de-semana devem ser atendidos.

(…)

Se o telefone estiver ocupado, por favor insista até conseguir. Essas ligações realmente fazem a diferença.

Esta é uma encruzilhada. Apenas a oposição massiva nos manterá a salvo de outros 50 anos dominados por 40 rádios. É hora de tomar posição e dar um basta nas amarras da radiodifusão.

Sessão conjunta do Congresso norte-americano. A Pandora é bem parecida com o Last.fm, só que melhor. É bloqueada no Brasil há tempos, por problemas de direitos autorais, mas quem teve a chance de usar esse excelente site não se esquece dele. Esses mesmos problemas de direitos autorais[bb] quase liquidaram de vez o serviço, que sobrevive graças a um intenso trabalho junto aos detentores dos direitos das obras reproduzidas.

O que me chamou a atenção nesse episódio de 27 de setembro foi a convocação à abordagem direta dos congressistas norte-americanos, a fim proteger a rádio online. “Essas ligações realmente fazem a diferença”. Aliás, a Pandora é só uma de várias organizações que já vi recorrem a ações como esta.

Aqui no Brasil, como a coisa seria?

Primeiro, você nem saberia para quem ligar, porque provavelmente não se lembra em quem votou. Ah, lembra? Más notícias: é bem possível que seu voto tenha eleito outro parlamentar. Culpa do nosso sistema eleitoral torto.

Segundo, você não sentiria motivação para ligar: “ah, esses caras não ouvem a gente, mesmo”. É difícil pensar o contrário. Há um ano, quando os parlamentares queriam dobrar seus próprios salários, a mídia incentivou os cidadãos a reclamarem ligando para o Congresso e enviando emails. Em pouco tempo os telefones da Casa dos supostos representantes do povo foram desligados e os emails começaram a ser devolvidos.

Na remota possibilidade de seu protesto chegar a um congressista, você ainda corre o risco de receber uma resposta mal-educada que insinua sua má-fé.

Bem sei que os Estados Unidos não são a última coca-cola[bb] do deserto. A democracia canhoneira que aplicam no Iraque neste exato momento e a forma como lidam com estrangeiros, especialmente desde o 11 de setembro, não deixam margem a fantasias. É inegável, porém, que seus cidadãos usufruem de uma democracia muito mais concreta e participativa que a existente na República Federativa do Brasil.

Resta continuar tentando por aqui, fazendo o possível para escolher bem nossos representantes (você já sabe em quem vai votar dia 05 de outubro?) e botando a boca no mundo quando necessário.

Ah, sim: mesmo com o forte caos provocado pela crise de crédito exatamente no fim-de-semana passado, o clamor do fundador da Pandora surtiu efeito:

É com emoção que informamos que o projeto foi aprovado! Graças ao seu incrível apoio, conseguimos driblar os esforços da AND para arruinar-nos. Telefonemas inundaram os gabinetes dos congressistas nas últimas 36 horas. Simplesmente fantástico.

O pedido e os agradecimentos estão na íntegra no blog da Pandora.

(Quanto às velhas mídias[bb], como as rádios estabelecidas e estagnadas há tempos, aprendam: evoluam ou vão sucumbir. Simples assim.)

Imagem: Wikipedia, domínio público.

Revista Feed-se Especial – Democracia

Feed-se Edição Especial - Democracia A Revista Feed-se voltou em edição especial, focando no tema Democracia.

A inspiração foi o imbróglio envolvendo o Twitter Brasil e o TRE/CE. O combustível foi a proximidade das eleições municipais. As finalidades? Gerar reflexões sobre democracia, voto, liberdade e censura. Provocar o leitor a sair da passividade e assumir responsabilidades. Alertar.

Escreveram especialmente para esta edição: Debora Rocco, DJ Miss Cloud, João Carlos Caribé, Jorge Araujo, Liliana Pellegrini, Lucia Freitas, Luiz Yassuda, Nospheratt e Roberto Cassano e eu. Bruno Alves fez ótimas charges especialmente para a Feed-se Democracia.

Muita gente perguntou (por email, twitter e pessoalmente) por que interrompemos a produção da Feed-se. Houve até quem se mostrasse incomodado com a interrupção (para esses, eu devolvo o valor pago pela assinatura e ficamos combinados, ok?).

Interrompemos a Feed-se porque somos poucos. Essa edição foi integralmente feita por quatro guerreiros: eu, Lu Freitas, Nospheratt e Alex. Da pauta à diagramação, fizemos tudo. Seria bacana ter mais gente na roda, sem dúvida, e poder fazer edições mensais. Só que a revista toma tempo, exige dedicação e não paga nada. É difícil achar quem trabalhe em troca de duas mariolas.

Baixe a Feed-se Edição Especial – Democracia. Leia, passe adiante, discuta, reflita. Dia 5 de outubro está aí. Participe conscientemente destas eleições. Lembre-se do ditado: “cada povo tem o governante que merece”.

Mais uma presepada do Judiciário brasileiro

Caros magistrados deste país varonil, quando o assunto envolver internet – mesmo que remotamente – suplico-lhes: calem-se. Por favor. Por caridade. Não você, Jorge. Aliás, seria ótimo que todos os processos que envolvem web fossem parar nas mãos do Jorge. Pena que não dá.

Também não dá pra obrigar os magistrados que acham que tudo sabem a ouvirem peritos quando o caso tiver relação com a internet. Bastaria navegar cotidianamente pela web e ter mais de dois neurônios (ou de dois centímetros de testa, como diz a Nosphie) para ser perito.

Mas os juízes, ah, eles não precisam de peritos. Têm todas as respostas para a vida, o universo e tudo o mais. São dotados de notório saber – não só jurídico, mas universal, transcendental, sobrenatural.

Impressionante é que, apesar de todo esse conhecimento, proferem uma asneira atrás da outra.

Nem estou me referindo ao Caso Cicarelli – embora esta seja, ainda, a presepada internética judiciária mais conhecida. Do jeito que vão as eleições municipais, logo veremos coisa pior.

Por exemplo, o Tribunal Eleitoral de São Paulo já proibiu um candidato de linkar, em sua página de campanha, vídeos do youtube. Segundo a decisão, tal prática feria a isonomia do processo eleitoral. O juiz até mandou computar esse uso do youtube nos gastos de campanha. Hello? Alguém explica pro juiz que o youtube é di grátis? E que a internet é a ferramenta mais democrática e isonômica possível, justamente pela profusão de serviços gratuitos que oferece?

As regras para a campanha eleitoral via web são de um absurdo sem tamanho. O candidato tem de criar um site próprio, com terminação .can.br. Se quiser, até pode hospedar vídeos lá – aí sim, gastando com hospedagem, tráfego de dados e manutenção, onerando os candidatos com menor poder aquisitivo. Usar serviços gratuitos e simples? Isso é proibido.

Sem contar a insistência do Judiciário em aplicar à internet – mídia livre, em que cada um acessa o que quer, quando quer – as normas da propaganda política na televisão, essa sim, concessão pública que, ademais, entra casa adentro sem pedir licença e sem mostrar todos os lados de uma questão.

Mas tergiverso. Comecei este artigo pra contar da última do Judiciário.

Foi o seguinte. A prefeita petista de Fortaleza (Ceará), candidata à reeleição, sentiu-se ofendida ou sei lá o quê por causa de um perfil falso no twitter, o serviço de microblog mais popular do Brasil. Aí, entrou com ação no Tribunal Eleitoral do Ceará contra… o twitter. Isso. Como se o twitter tivesse alguma responsabilidade pela criação de perfis falsos.

Mas tudo bem, você diz, ela provavelmente só quer que o twitter remova o perfil. Duvido muito (dado o desdobramento do caso), mas é difícil dizer ao certo, já que a petição inicial não está na internet. Só um resuminho do processo (clique para ampliar):

TRE do Ceará e a ameaça ao twitter - clique para ampliar.

O ilustre magistrado nas mãos de quem caiu a ação ordenou a retirada do ar do… perfil falso? Não. Do twitter? Tente de novo. Do Twitter Brasil. Um blog não-oficial que comenta recursos e novidades do twitter. Que não tem nada a ver criação do tal perfil falso. Que sequer trata de política. O Twitter Brasil entrou de gaiato nessa história. A incompetência ou a preguiça ou a ineficiência foram bater lá em Fortaleza e alguém achou que o Twitter Brasil fosse o twitter. Vai entender.

Repare: o juiz, do alto de sua sapiência, decidiu liminarmente, isto é, sem ouvir o outro lado – o twitter, o Twitter Brasil, tanto faz. Nem quis saber se havia uma forma menos drástica de resolver a pinimba. “Ah, fecha logo essa joça toda e estamos conversados”, deve ter dito o magistrado.

A Raquel Camargo, uma das responsáveis pelo site, conta a história no seu blog. E conclui: “o twitter está ameaçado”.

Sim, caríssimo leitor, caríssima leitora. Se o Twitter Brasil foi tirado do ar por essa liminar, adivinha o que teria sido bloqueado caso o equívoco não tivesse ocorrido? O próprio twitter, claro. Essa ferramenta que uns amam, outros odeiam, mas que, acima de tudo, é democrática, como democrática é a internet.

Sacou? No fim das contas, é a democracia brasileira que está ameaçada. De novo. Ou ainda. Porque a impressão é que em 508 anos de história este país nunca viveu uma democracia real.

O que acontecerá quando o ilustre magistrado ou a coligação da candidata à reeleição descobrirem que o twitter continua no ar (bem como o perfil falso)? Dá bem pra imaginar, não?

Se a tal candidata sentiu-se ofendida, muito bem. Que vá ao Judiciário e peça a retirada do tal perfil. Que corra atrás de punir o responsável pela sua criação, que mova céus e terras para garantir seus direito.

O que não dá é pra achar que o direito de uma única criatura sobrepuja o direito dos milhares de brasileiros que utilizam o serviço todos os dias. Não dá pra tolerar um autoritarismo desses.

Mais intolerável ainda é constatar (mais uma vez) que estamos nas mãos de um Judiciário completamente incapaz de entender a internet. É nas mãos desse Judiciário que reside, em última análise, a fraca democracia brasileira.

Os protestos no twitter durante o dia de hoje foram inúmeros. A notícia também já chegou a alguns veículos de imprensa (acompanhe o clipping que a Raquel está fazendo). A Lu Freitas mandou para o Digg um artigo explicando o desmando. Quanto mais votos, melhor, para gerar barulho internacional.

O blog Twitter Brasil voltou ao ar no fim da tarde. Aparentemente, houve um erro do tribunal (jura?). O retorno do site foi rápido graças à mobilização da blogosfera, que botou a boca no trombone – usando, entre outras ferramentas, o twitter. Que, se não fosse por esse “erro”, estaria fora do ar agora, graças à liminar absurda.

Tem gente falando: “ah, isso foi bom pro Twitter Brasil, deu visibilidade”. Essa não é a questão. A questão é que estamos cercados de gente absolutamente despreparada para lidar com a internet. Pior: ao lado dessa gente despreparada há figuras mal-intencionadas que morrem de medo do potencial democrático da internet e que só esperam uma brechinha para nos transformar numa China tupiniquim.

O que podemos fazer?

Podemos protestar (eu aproveitei para mandar um email pra tal candidata). Podemos botar a boca no mundo. Podemos pensar muito bem em quem votaremos nas próximas eleições.

Ao fim e ao cabo, temos de dormir com os olhos bem abertos, se não quisermos que nos furtem essa tal de democracia na calada da noite.