Resultado: os gastos com o Pan-americano 2007 valem a pena?

Em 13 de junho, perguntei se valia a pena gastar tanto dinheiro com o Pan-americano 2007, no Rio de Janeiro.

Pouco mais de 2 meses e 194 votos depois, o resultado é que:

  • 25%, ou 48 votantes, acham que sim, pois reverterão na melhoria da imagem do Brasil e da qualidade de vida dos cariocas
  • 75%, ou 146 votantes, acham que não e acreditam que os recursos deveriam ser usados para resolver os graves problemas do Rio de Janeiro

Resultado da Enquete: Os gastos com o Pan-americano 2007 valem a pena? Minha opinião sobre o assunto não mudou. Sim, foi legal ver o Brasil ganhar medalhas, a competição foi acessível aos praticantes de modalidades que contam com poucas verbas e muitas dificuldades para bancar viagens e, ok, talvez uma ou outra instalação venha a beneficiar a população do Rio de Janeiro.

O fato é que temos questões realmente graves para resolver. A criminalidade, a péssima qualidade do sistema educacional, o descalabro do Sistema Único de Saúde, para ficar apenas com três exemplos, são problemas urgentes que atingem não só o carioca, mas cada brasileiro, direta ou indiretamente. Eu sei, estou sendo repetitiva.

Gostei do debate, especialmente nos comentários feitos ao artigo original. Outro acréscimo valioso à discussão é a compilação de artigos sobre o tema organizada pela Veridiana Serpa. Sugiro a leitura de todo esse material.

Ainda não coloquei uma nova enquete no ar. Aliás, estou cada vez mais dividida sobre a utilidade dessas pesquisas. Comentários sobre questões específicas são muito mais instigantes que meros números impessoais.

O que você acha? Pesquisas de opinião nos menus laterais de blogs são úteis? São interessantes?

(Será que devo criar uma enquete para responder essa pergunta? 😉 )

Mais sobre o acidente da TAM


Para quem ainda acha que o desastre de terça-feira passada com o Airbus 320 foi um acidente, ou, pior ainda, para quem já se apressou em culpar o piloto – que, morto, não pode tugir, mugir ou empurrar a responsabilidade para outra pessoa – eis um texto escrito por um piloto que explica detalhes sobre o pouso em Congonhas. O artigo é técnico, mas compreensível. Vi a dica no Blogue do Janio que, por sua vez, encontrou-a no Ladybug Brasil.

Não voe por CongonhasA propósito, vi no Pensar Enlouquece, Pense Nisso uma campanha que vale a pena divulgar e seguir: Não voe por Congonhas. É provável que vá a São Paulo daqui a algumas semanas e já resolvi: chego e saio por Campinas. Talvez meus motivos sejam pouco nobres, porém, já que o mais forte deles é mesmo o medo.

A campanha Não voe por Congonhas visa a uma mudança de hábito, levando-se em conta que o aeroporto está sobrecarregado. O racionamento de vôos e a execução de reformas urgentes são medidas imperativas para que seu uso se torne seguro. Principalmente, é essencial pensar numa alternativa séria a Congonhas. A construção de um novo aeroporto, capaz de receber aviões de grande porte com segurança, não pode mais ser adiada. O que cada um de nós pode fazer é abrir mão da praticidade e, sim, do comodismo, e optar por Cumbica (Guarulhos) ou Viracopos (Campinas). Talvez assim, autoridades e empresas aéreas sejam atingidas na parte que mais lhes dói (o bolso, claro, porque consciência é algo que lhes falta) e passem a buscar soluções concretas para o Apagão Aéreo. A iniciativa é do blog ViuIsso?.

Lamento a ausência de textos no Dia de Folga esta semana e a insistência em falar dessa tragédia. O que ocorre é que senti-me absolutamente sem vontade de escrever trivialidades após o ocorrido. A apatia está passando e o DF volta à programação normal na próxima semana.

Tragédia Anunciada


A dor dos familiares das vítimas do vôo 3054. (Fonte: Folha Online)Você acha que a catástrofe de ontem, que atingiu diretamente 200 pessoas em Congonhas e indiretamente cada um de nós foi uma fatalidade? Um azar? Vontade de Deus? Destino? Caso fortuito ou força maior?

Não foi. Não foi nada disso.

O acidente do com o vôo JJ 3054 da TAM, que levou à morte 162 passageiros, 18 funcionários da empresa e 6 tripulantes que estavam no Airbus A-320 da empresa e, ainda, pessoas que estavam nas imediações e no prédio da TAM contra o qual o avião se chocou foi uma tragédia anunciada.

O perigo de derrapagens era conhecido da Infraero e da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Em 24 de janeiro de 2007, o Ministério Público Federal impetrou ação civil pública contra a Anac e a Infraero. Leia o que o MPF pediu:

1) interdição da pista principal do Aeroporto Internacional de Congonhas com a interrupção de todas as operações de pouso e decolagem, até que a obra de recuperação geométrica de toda a pista, com a correção das declividades transversais e longitudinais, e a execução de uma nova capa asfáltica com grooving seja concluída.

2) realização das obras necessárias, conforme constatado pela Infraero e tudo o mais que for constatado em perícia a ser realizada de forma a garantir a segurança na utilização da pista principal do Aeroporto.

3) no remanejamento da escala dos vôos do Aeroporto de Congonhas para os Aeroportos de Guarulhos e de Viracopos com a conseqüente informação aos usuários/consumidores das alterações efetuadas.

4) determinação às rés que não ampliem o horário de funcionamento do aeroporto com relação ao uso da pista auxiliar para além das 23 horas, bem como o uso desta seja adequado as suas limitações e condições.

A razão do pedido? Leia trechos da ACP:

Até o presente momento foram pelos menos 4 (quatro) os incidentes ocorridos em razão de aquaplanagem. (p. 3).

O primeiro incidente havido em razão do desgaste da pista do Aeroporto e do acúmulo de água ocorreu em março de 2006 com relação a uma aeronave da empresa BRA, que não conseguiu frear e parou no canteiro, próximo à Av. dos Bandeirantes. (p. 3)

O segundo incidente aconteceu às 06h06min do dia 06 de outubro de 2006 com um Boeing-737/300 da empresa Gol que também derrapou na pista ainda molhada em razão de duas chuvas fracas havidas na madrugada. (p. 4)

Outra derrapagem (terceiro incidente) ocorreu no dia 19 de novembro de 2006 (domingo) por volta das 22h55min. Nessa noite, o Aeroporto Internacional de Congonhas fechou das 20h20min às 20h50min devido ao temporal que atingiu a cidade de São Paulo. (p. 6)

Mesmo após o serviço de re-texturização da pista, no dia 17 de janeiro de 2006, o quarto incidente ocorreu com a derrapagem de um Boeing-737 da Varig, às 17h48min. (p. 11)

Cumpre destacar que a própria ré Infraero admite as deficiências existentes na pista principal do Aeroporto de Congonhas, quais sejam nível de atrito insatisfatório, escoamento superficial da água prejudicado gerando lâmina d’água face à deficiência nas declividades transversais e longitudinais da pista. (p. 15)

O deslizamento das aeronaves é gravíssimo, pois retira do piloto o controle da aeronave, podendo ensejar acidentes pela impossibilidade de frenagem da mesma. Considerando, ainda, a inexistência de áreas de escape no aeroporto, conforme anteriormente explanado (fls. 62/64 e 126/127), a possibilidade de que uma dessas aeronaves deslize para fora do aeroporto atingindo uma das avenidas que o circundam é realmente palpável. (p. 15)

Saliente-se que a ré Anac também admite a existência dessas deficiências na pista do Aeroporto de Congonhas, uma vez que informou ter participado da decisão pela manutenção de interdição da pista e conseqüente suspensão das operações em condições de chuvas (…) (p. 16)

(…) mais uma vez pretendem os operadores do Aeroporto priorizar os interesses econômicos das companhias aéreas em detrimento da segurança dos passageiros, tripulantes e das pessoas que circulam no aeroporto e ao seu redor, tendo em vista que as novas discussões no setor são no sentido de que sejam retomadas as operações sem que a Recomendação do CENIPA de paralisação para verificação da existência ou não de lâmina d’água seja observada. (p. 17)

Saliente-se mais uma vez que mesmo com chuva fraca, porém constante, há a formação da lâmina de água, colocando em risco qualquer operação de pouso e arriscando a vida dos passageiros cuja aeronave pode deslizar e cair no meio das Avenidas que circundam o Aeroporto. (p. 17)

Quantas vidas mais serão colocadas em risco para que medidas efetivas e satisfatórias sejam tomadas? Quantos incidentes ainda terão que ocorrer para que as autoridades se conscientizem dos valores constitucionais máximos, dentre eles o direito à vida e à integridade física? (p. 24)

O inteiro teor da ACP está disponível na internet (em pdf). Recebi o link, junto com uma série de textos sobre o assunto, de um amigo promotor de justiça, há poucos minutos.

A ação traz copiadas diversas notícias de jornais, comprovando a existência do problema e a gravidade dos riscos. Também provou à exaustão que as autoridades envolvidas (Infraero e Anac) tinham conhecimento da situação alarmante da pista de Congonhas.

Então por que nada foi feito?!

Caramba, em que país estamos vivendo? O que está sendo feito das nossas vidas? Aos cuidados de quem estamos?

Onde está o governo federal, que nada faz?

Não falta dinheiro para lavar a mão de políticos, empreiteiras, sanguessugas e sabe-se lá quem. Não falta dinheiro para fazer caridade para Bolívia ou Argentina. Não falta dinheiro para executar obras superfaturadas para os Jogos Pan-americanos?

Cadê o dinheiro para reformar os aeroportos?!

Estamos num país desgovernado, literalmente. Entregues ao deus-dará, vamos levando enquanto o céu não desaba sobre nossas cabeças. Cordatos que somos, não reclamamos. Festejamos migalhas, pequenas (e caríssimas) obras, políticas assistencialistas. Enquanto isso, gente está morrendo.

O que aconteceu com a CPI do Apagão Aéreo?! Por que tanto medo de mexer na Infraero? Quais os podres que estão escondidos por lá?

Que lobby é esse que sacrifica vidas?! Como empresas aéreas e órgãos estatais podem mancomunar-se com tamanha irresponsabilidade, em total descaso com os milhares de seres humanos que, todos os dias, dependem dos aeroportos, ou estão situados

Quantas vidas serão perdidas antes que as autoridades acordem??

O Cristo Redentor e as Tais 7 Maravilhas

Castelo de Neuschwanstein, na AlemanhaNada como conversar com outras pessoas para descobrir que muita, muita gente não compartilha da opinião da maioria. Blogs podem gerar conversas interessantes e alguns deles escreveram contra essa tal eleição do Cristo Redentor como uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno.

Na boa, o que é aquela estátua? Uma escultura de pedra-sabão que, por mais trabalho que tenha dado ao seu criador, não reúne qualidades artísticas suficientes para que se diga que é uma maravilha, muito menos uma Maravilha. Como ela, há dezenas espalhadas pelo interior do Brasil, inspiradas na pioneira. Uma Maravilha é algo que se reproduza facilmente? Alguém conseguiria reproduzir os Jardins Suspensos da Babilônia ou as Pirâmides do Egito? É, também acho que não.

Qual o caráter artístico, cultural ou histórico que justificaria a escolha do Cristo Redentor como uma das Maravilhas do Mundo Moderno? Ora essa, o que torna a estátua especial é o seu pedestal natural, é a paisagem que o cerca – esta sim, maravilhosa, cantada com loas por Tom Jobim: a Baía da Guanabara, a mistura de mar e morro, o encontro de céu, floresta e oceano. Esse cenário privilegiado é criação exclusiva da natureza e tem conseguido sobreviver apesar dos desmantelos humanos.

Quando os jornais estrangeiros dizem que a escultura só saiu vitoriosa graças ao número de habitantes do Brasil, estão cobertos de razão. Como competir com cento e tantos milhões de brasileiros, dos quais boa parte infesta a internet como uma nuvem de gafanhotos, enquanto outros tantos ficam ávidos por se separar do dinheiro votando pelo celular em babaquices como os “paredões” do Big Brother Brasil? Claro que a campanha iria se espalhar com caráter viral e acabaria dando destaque ao Cristo Redentor. Tola fui eu, que imaginei que desta vez isso não aconteceria.

Agüentar a campanha “Vote Cristo” já foi ruim, mas ainda piores são as atuais demonstrações de ufanismo patético. A imprensa proclama: “O Rio precisava disso para recuperar a auto-estima”. Ora bolas, o que o Rio de Janeiro precisa é de uma gestão competente, honesta, que use as verbas públicas em áreas sensíveis e não a desperdice com corrupção ou programas populistas. Isso sim, levantaria a auto-estima dos cariocas e ajudaria a recuperar a imagem da cidade. Isso sim, atrairia turismo e melhoraria a imagem do Rio no exterior.

É típico do brasileiro acreditar que uma vitória na Copa do Mundo, um desfile de carnaval, a realização de jogos internacionais e não-sei-mais-o-que vão ajudar o país e o povo. Não sei se isso tudo é ingenuidade das massas ou má-fé dos governos. Ótimo, somos pentacampeões no futebol, campeões mundiais e vários outros esportes, sediamos um Pan-americano e, glória das glórias, temos uma Maravilha entre as 7 do mundo moderno. O Brasil se tornou mais justo ou menos corrupto nos últimos dias? A distribuição de renda melhorou? A seca no Nordeste e as queimadas na Amazônia cessaram?

Pra não dizer que não falei das flores, abaixo segue a imagem da minha votação no concurso (clique na imagem para ampliar). No alto, à esquerda, a foto é do Castelo de Neuschwanstein, na Alemanha e foi retirada do seu site oficial.

Meu voto no concurso das 7 Maravilhas do Mundo Moderno - clique para ampliar

(Acrópole, Coliseu, Grande Muralha, Basílica de Santa Sofia, Machu Picchu, Castelo de Neuschwanstein e Taj Mahal)

Referências