Ações Bacanas para o Natal

Você já sabe: dias sem escrever por aqui querem dizer dias de muito, muito trabalho. Desta vez não é exceção, mas não poderia viajar (amanhã, para o Rio) sem destacar três ações bacanas pra quem deseja aproveitar o natal para fazer algo além de estourar o cartão de crédito.

Projeto  “Feliz Natal Crafter” e Daluli

Feliz Natal Crafter Esse é para quem tem habilidade manual (não é o meu caso, tenho duas mãos direitas – e sou canhota): o .faso criou o Daluli, um polvo (de sete pernas, mas quem está contando?) fofíssimo de suspensório, que pode fazer a alegria de crianças carentes neste fim de ano. Lá no .marcamaria, você encontra o passo-a-passo para fazê-lo a mão ou na máquina de costura.

Se, como eu, você não tem talento com agulha e linha, pode ajudar divulgando o projeto.

Cestas de Natal

Já mencionei aqui, mas não custa frisar: a mãe da Mellancia coordena uma distribuição anual de cestas básicas de natal para tornar o fim de ano de famílias carentes menos sofrido. Participar é simplérrimo: basta ter boa-vontade e 50 reais no bolso.

A campanha é do Instituto Espírita Cidadão do Mundo. Não, não sou espírita, mas conheço alguns trabalhos voluntários coordenados por instituições espíritas e sei como eles são bons nesse lance de ajudar quem precisa.

A Mellancia pede pra avisar que a instituição envia recibo das doações (embora ainda não sejam dedutíveis do imposto de renda). Basta enviar o comprovante do depósito para o email dela, que não vou divulgar aqui pra não virar contato de spammer, mas que você pode descobrir deixando um comentário no blog da Mellancia.

Papai Noel dos Correios

Essa campanha é meu xodó. Funciona assim: crianças carentes que escrevem para o Papai Noel têm suas cartinhas recolhidas pelos Correios, que as deixa nas agências para que pessoas comuns possam dar uma de Papai Noel e comprar o que a criança pediu. Aí, é só levar o brinquedo (ou roupa, ou material escolar – tem de tudo) de volta à mesma agência em que a cartinha foi retirada, que os Correios se encarregam da entrega.

Conselho: não vá com pressa. Tire, digamos, uma hora pra ficar na agência lendo as cartinhas. Até o Spock se emocionaria com o que essas crianças escrevem.

Na agência dos correios perto da minha casa, as cartinhas chegam só dia 17, mas é capaz de já estarem disponíveis em outras agências. De qualquer forma, dá pra ser Papai Noel ainda em novembro e escapar da loucura de fim de ano dos shoppings.

Claro, ninguém tem de ajudar ninguém só porque é natal. Tem gente que ajuda o ano todo. Tem gente que quer que o mundo se exploda. Pra mim, natal e décimo-terceiro chegam na mesma época e funcionam como um lembrete de que tenho mais do que preciso e posso colaborar um pouquinho.

Outubro Rosa: lembranças

Eu tinha uns 12 ou 13 anos e morava no Rio de Janeiro. Foi justamente numa metrópole que eu e minha mãe encontramos com uma profissional cada vez mais escassa: uma costureira de mão cheia, dessas que fazem de bermudinha a vestidos de baile com o mesmo primor – e do lado de casa. Íamos a pé encontrar a Dona Rosinha e na casa dela passávamos a tarde, folheando revistas de moda, tirando medidas, provando os esboços e batendo papo.

Havia três gerações ali – Dona Rosinha tinha idade para ser minha avó – e eu mais escutava que falava. Às vezes, desligava-me da conversa enquanto via as revistas e imaginava as roupas novas. Também olhava bastante ao redor, vasculhando sem tocar as grandes cestas de retalhos (eu sabia que sairia de lá com alguns), o enorme espaço que servia de sala de costura e prova e, logo ali ao lado, a sala de visitas que fazia parte do lar da Dona Rosinha. Na estante escura, uma televisão grande e bichinhos de porcelana sobre toalhas de crochê. Um daqueles retratos clássicos pendurado na parede: várias fotos pequenas de um bebê, formando um círculo sépia, com uma imagem do mesmo menino ao centro, maior e posada.

Nesse ambiente de casa de vó do interior é que a expressão “câncer de mama” tomou forma pela primeira vez. Dona Rosinha tivera câncer de mama muitos anos antes, quando era uma jovem mãe. Quando falei “mas você está curada, né?”, ela explicou que o câncer sumira há tempos, mas de vez em quando ela dava uma conferida. Nos primeiros anos, todo mês precisava checar se estava mesmo bem. Depois, a visita ao médico era a cada seis meses e, finalmente, tornou-se uma rotina anual. “Pra sempre?”. Sim, pra sempre.

Era difícil imaginar que aquela mulher forte, trabalhadeira, criativa e caprichosa tivesse algum dia ficado tão seriamente doente, mas era a mais pura verdade. Dona Rosinha podia mostrar a prova concreta em seu corpo, ou melhor, podia mostrar o que não estava lá: seus seios haviam sido totalmente removidos em função do câncer.

Aquela imagem, que até hoje está bem clara na memória, não me causou piedade – e talvez isso soe extremamente insensível, mas foi assim mesmo. Não me recordo de ter olhado para a Dona Rosinha com pena. Esse o sentimento simplesmente não era compatível com minha costureira preferida com cara de avó. Dona Rosinha era uma mulher talentosa, cheia de energia e que transbordava vitalidade. Se havia algo a sentir por aquela fortaleza de um metro e meio de altura, era admiração. Pura e simples admiração.

Hoje as coisas são muito diferentes do que eram na época em que a Dona Rosinha teve câncer. As mulheres têm mais informações, a medicina evoluiu, há o diagnóstico precoce e a cirurgia reconstrutora faz do tratamento. O trauma físico e psicológico é menor, as taxas de sobrevivência são maiores.

Ainda assim, se eu me tornar parte das estatísticas do câncer de mama, na sua forma mais branda ou não, desejo que possa lembrar-me da Dona Rosinha, cujo nome não poderia ser mais apropriado como símbolo de vitória sobre o tumor. Que eu me lembre da volta por cima apesar da violência do câncer. Que eu lembre que uma doença, qualquer que seja, não me define como ser humano ou como mulher. Que eu lembre que minha feminilidade não se resume a uma parte do meu corpo, mas permeia cada célula, cada sopro de vontade, espírito e alma.

Que eu me lembre, que você se lembre e que sigamos em frente com garra, amor e vontade, mesmo que a vida não seja cor-de-rosa.

Outubro Rosa e o Laço

Outubro Rosa

Você já deve ter visto por aí um lacinho rosa usado como símbolo da luta contra o câncer de mama. Há até uma corrente famosa em que um homem usa um laço rosa na lapela e, ao ser abordado por outros em tom de deboche, explica-lhes que exibe o laço justamente para ter a oportunidade de falar sobre o câncer de mama e sobre a importância de incentivar as mulheres a fazerem exames regulares.

A história do laço rosa começou em 1991, com a Fundação Susan G. Komen (que ainda existe e dedica-se a arrecadar fundos para pesquisas voltadas à cura do câncer de mama.) Motivada pelo laço vermelho usado um ano antes por Jeremy Irons para chamar a atenção para os portadores de AIDS, a fundação distribuiu laços cor-de-rosa para as participantes da Corrida pela Cura do Câncer de Mama, realizada em Nova Iorque no outono. Segundo o artigo Pretty in Pink, o movimento cresceu de verdade no ano seguinte, impulsionado pela revista Self (especializada em beleza e saúde) e desde então virou mania.

Desde a gênese do movimento, questionam-se as intenções comerciais por trás do laço cor-de-rosa e dos produtos que surgiram no seu lastro – em nome da prevenção e do tratamento do câncer de mama, inúmeras empresas lançam produtos cor-de-rosa, principalmente em outubro, prometendo a doação de parte dos lucros para instituições deidcadas à doença.

Essa exploração comercial do câncer de mama por empresas não-tão-comprometidas-assim motivou o surgimento de uma contracampanha: Think Before You Pink, (mais ou menos “Pense Antes de Usar Rosa”), que desde 2002 alerta potenciais consumidores para que se perguntem se o merchandising feito por tantos produtos em torno do câncer de mama é mesmo útil ou se não passa de mais uma fonte de lucro.

Algumas das questões levantadas pela contracampanha:

  • Do que você paga pelo produto cor-de-rosa “engajado”, quanto realmente é doado?
  • Quanto dinheiro é gasto no marketing do tal produto?
  • Como e por quem o dinheiro doado é aplicado?

E conclui: “se consumir curasse o câncer de mama, a esta altura ele já estaria curado.”

Ora, nem tanto ao céu, nem tanto ao mar. Não sejamos tão crédulos e nem tão cínicos.

Fita Rosa Vivemos em um mundo movido pelo lucro. Dizer o contrário é hipocrisia e remar contra a corrente é perda de tempo e de esforços.  A busca do lucro gera mazelas, sim, mas também é a responsável pelo progresso. É o lucro que motiva o surgimento de grandes invenções, como as que tornam possível que você esteja lendo, agora, este artigo. Se não fosse pela corrida atrás do lucro, pedras e barro fofo seriam até hoje nossas ferramentas mais modernas, doenças banais matariam milhões todos os anos e ver o tempo passar seria nosso lazer principal.

Descartar boas iniciativas só porque geram lucro para alguém não faz de você uma pessoa mais consciente. O que a faz consciente é reconhecer motivações e, mesmo quando não são as melhores ou as mais coerentes, enxergar o que delas pode ser posto a serviço de causas bacanas.

Veja só, eu não ganhei nem um centavo nas últimas semanas para falar sobre o câncer de mama. Você não pagou nada para aprender, emocionar-se ou refletir um pouco mais sobre o assunto, aqui nos vários blogs que participaram do Outubro Rosa. Talvez, se não houvesse em 1992 um interesse comercial de revistas e marcas de cosméticos, não tivéssemos passado este mês conversando sobre o tema.

O Pink Ribbon Day (“Dia do Laço Rosa”), que acontece na próxima segunda-feira, 27 de outubro, tem por objetivo arrecadar dinheiro para a pesquisa, prevenção e cura do câncer de mama. É promovido pela National Breast Cancer Foundation, fundação australiana sem fins lucrativos. Você pode contribuir comprando um dos produtos cor-de-rosa (é preciso ter cartão de crédito internacional e pagar 15 dólares de frete) ou fazendo uma doação de qualquer valor (via cartão ou PayPal).

Ou pode, simplesmente, aproveitar o pretexto e conversar sobre o câncer de mama, como aquele moço fictício da corrente. Pode se lembrar de, na próxima segunda-feira, orientar sua secretária, sua amiga, sua colega de trabalho ou sua mãe sobre a necessidade da mamografia periódica. Pode explicar sobre as vantagens da detecção precoce do tumor e sobre a importância de ir ao ginecologista habitualmente.

Aliás, como está a sua saúde? Já marcou sua consulta anual?

Imagem: Wikimedia Commons.

Parece pouco?

Para Doação

Pra muita gente, é melhor que o nada do dia-a-dia.

O Blog Action Day 2008 convida a refletir sobre a pobreza. Não é preciso muito esforço para encontrá-la por aí, em morros, viadutos, terrenos baldios, calçadas e marquises. Também não é preciso muito esforço para aliviá-la, mesmo que temporariamente. Que tal vasculhar os armários e separar aquilo que está em bom estado, mas já não serve para você?

Você me dirá “isso não resolve o problema”. Não, não resolve. Nem por isso vou deixar de dar melhor destino a um casaco que não me agrada mais, umas blusas que não me servem, um punhado de material de escritório que não uso. Certamente, serão mais úteis a alguém que às minhas gavetas.

As questões realmente sérias não são resolvidas por uma única pessoa ou com um único gesto, mas graças a uma miríade de pequenas ações. Não se valha da desculpa “isso não resolve” para cruzar os braços. Faça algo, por menor que seja, mas faça.