Outubro Rosa: lembranças

Eu tinha uns 12 ou 13 anos e morava no Rio de Janeiro. Foi justamente numa metrópole que eu e minha mãe encontramos com uma profissional cada vez mais escassa: uma costureira de mão cheia, dessas que fazem de bermudinha a vestidos de baile com o mesmo primor – e do lado de casa. Íamos a pé encontrar a Dona Rosinha e na casa dela passávamos a tarde, folheando revistas de moda, tirando medidas, provando os esboços e batendo papo.

Havia três gerações ali – Dona Rosinha tinha idade para ser minha avó – e eu mais escutava que falava. Às vezes, desligava-me da conversa enquanto via as revistas e imaginava as roupas novas. Também olhava bastante ao redor, vasculhando sem tocar as grandes cestas de retalhos (eu sabia que sairia de lá com alguns), o enorme espaço que servia de sala de costura e prova e, logo ali ao lado, a sala de visitas que fazia parte do lar da Dona Rosinha. Na estante escura, uma televisão grande e bichinhos de porcelana sobre toalhas de crochê. Um daqueles retratos clássicos pendurado na parede: várias fotos pequenas de um bebê, formando um círculo sépia, com uma imagem do mesmo menino ao centro, maior e posada.

Nesse ambiente de casa de vó do interior é que a expressão “câncer de mama” tomou forma pela primeira vez. Dona Rosinha tivera câncer de mama muitos anos antes, quando era uma jovem mãe. Quando falei “mas você está curada, né?”, ela explicou que o câncer sumira há tempos, mas de vez em quando ela dava uma conferida. Nos primeiros anos, todo mês precisava checar se estava mesmo bem. Depois, a visita ao médico era a cada seis meses e, finalmente, tornou-se uma rotina anual. “Pra sempre?”. Sim, pra sempre.

Era difícil imaginar que aquela mulher forte, trabalhadeira, criativa e caprichosa tivesse algum dia ficado tão seriamente doente, mas era a mais pura verdade. Dona Rosinha podia mostrar a prova concreta em seu corpo, ou melhor, podia mostrar o que não estava lá: seus seios haviam sido totalmente removidos em função do câncer.

Aquela imagem, que até hoje está bem clara na memória, não me causou piedade – e talvez isso soe extremamente insensível, mas foi assim mesmo. Não me recordo de ter olhado para a Dona Rosinha com pena. Esse o sentimento simplesmente não era compatível com minha costureira preferida com cara de avó. Dona Rosinha era uma mulher talentosa, cheia de energia e que transbordava vitalidade. Se havia algo a sentir por aquela fortaleza de um metro e meio de altura, era admiração. Pura e simples admiração.

Hoje as coisas são muito diferentes do que eram na época em que a Dona Rosinha teve câncer. As mulheres têm mais informações, a medicina evoluiu, há o diagnóstico precoce e a cirurgia reconstrutora faz do tratamento. O trauma físico e psicológico é menor, as taxas de sobrevivência são maiores.

Ainda assim, se eu me tornar parte das estatísticas do câncer de mama, na sua forma mais branda ou não, desejo que possa lembrar-me da Dona Rosinha, cujo nome não poderia ser mais apropriado como símbolo de vitória sobre o tumor. Que eu me lembre da volta por cima apesar da violência do câncer. Que eu lembre que uma doença, qualquer que seja, não me define como ser humano ou como mulher. Que eu lembre que minha feminilidade não se resume a uma parte do meu corpo, mas permeia cada célula, cada sopro de vontade, espírito e alma.

Que eu me lembre, que você se lembre e que sigamos em frente com garra, amor e vontade, mesmo que a vida não seja cor-de-rosa.

Outubro Rosa e o Laço

Outubro Rosa

Você já deve ter visto por aí um lacinho rosa usado como símbolo da luta contra o câncer de mama. Há até uma corrente famosa em que um homem usa um laço rosa na lapela e, ao ser abordado por outros em tom de deboche, explica-lhes que exibe o laço justamente para ter a oportunidade de falar sobre o câncer de mama e sobre a importância de incentivar as mulheres a fazerem exames regulares.

A história do laço rosa começou em 1991, com a Fundação Susan G. Komen (que ainda existe e dedica-se a arrecadar fundos para pesquisas voltadas à cura do câncer de mama.) Motivada pelo laço vermelho usado um ano antes por Jeremy Irons para chamar a atenção para os portadores de AIDS, a fundação distribuiu laços cor-de-rosa para as participantes da Corrida pela Cura do Câncer de Mama, realizada em Nova Iorque no outono. Segundo o artigo Pretty in Pink, o movimento cresceu de verdade no ano seguinte, impulsionado pela revista Self (especializada em beleza e saúde) e desde então virou mania.

Desde a gênese do movimento, questionam-se as intenções comerciais por trás do laço cor-de-rosa e dos produtos que surgiram no seu lastro – em nome da prevenção e do tratamento do câncer de mama, inúmeras empresas lançam produtos cor-de-rosa, principalmente em outubro, prometendo a doação de parte dos lucros para instituições deidcadas à doença.

Essa exploração comercial do câncer de mama por empresas não-tão-comprometidas-assim motivou o surgimento de uma contracampanha: Think Before You Pink, (mais ou menos “Pense Antes de Usar Rosa”), que desde 2002 alerta potenciais consumidores para que se perguntem se o merchandising feito por tantos produtos em torno do câncer de mama é mesmo útil ou se não passa de mais uma fonte de lucro.

Algumas das questões levantadas pela contracampanha:

  • Do que você paga pelo produto cor-de-rosa “engajado”, quanto realmente é doado?
  • Quanto dinheiro é gasto no marketing do tal produto?
  • Como e por quem o dinheiro doado é aplicado?

E conclui: “se consumir curasse o câncer de mama, a esta altura ele já estaria curado.”

Ora, nem tanto ao céu, nem tanto ao mar. Não sejamos tão crédulos e nem tão cínicos.

Fita Rosa Vivemos em um mundo movido pelo lucro. Dizer o contrário é hipocrisia e remar contra a corrente é perda de tempo e de esforços.  A busca do lucro gera mazelas, sim, mas também é a responsável pelo progresso. É o lucro que motiva o surgimento de grandes invenções, como as que tornam possível que você esteja lendo, agora, este artigo. Se não fosse pela corrida atrás do lucro, pedras e barro fofo seriam até hoje nossas ferramentas mais modernas, doenças banais matariam milhões todos os anos e ver o tempo passar seria nosso lazer principal.

Descartar boas iniciativas só porque geram lucro para alguém não faz de você uma pessoa mais consciente. O que a faz consciente é reconhecer motivações e, mesmo quando não são as melhores ou as mais coerentes, enxergar o que delas pode ser posto a serviço de causas bacanas.

Veja só, eu não ganhei nem um centavo nas últimas semanas para falar sobre o câncer de mama. Você não pagou nada para aprender, emocionar-se ou refletir um pouco mais sobre o assunto, aqui nos vários blogs que participaram do Outubro Rosa. Talvez, se não houvesse em 1992 um interesse comercial de revistas e marcas de cosméticos, não tivéssemos passado este mês conversando sobre o tema.

O Pink Ribbon Day (“Dia do Laço Rosa”), que acontece na próxima segunda-feira, 27 de outubro, tem por objetivo arrecadar dinheiro para a pesquisa, prevenção e cura do câncer de mama. É promovido pela National Breast Cancer Foundation, fundação australiana sem fins lucrativos. Você pode contribuir comprando um dos produtos cor-de-rosa (é preciso ter cartão de crédito internacional e pagar 15 dólares de frete) ou fazendo uma doação de qualquer valor (via cartão ou PayPal).

Ou pode, simplesmente, aproveitar o pretexto e conversar sobre o câncer de mama, como aquele moço fictício da corrente. Pode se lembrar de, na próxima segunda-feira, orientar sua secretária, sua amiga, sua colega de trabalho ou sua mãe sobre a necessidade da mamografia periódica. Pode explicar sobre as vantagens da detecção precoce do tumor e sobre a importância de ir ao ginecologista habitualmente.

Aliás, como está a sua saúde? Já marcou sua consulta anual?

Imagem: Wikimedia Commons.

Outubro Rosa: a mensagem pode ser leve

Outubro Rosa Que o câncer de mama é uma doença séria e grave, que atinge milhões de mulheres e, apesar de ter cura, ceifa muitas vidas (por falta de informação, de exames, de médicos, de dinheiro), nós sabemos. Apesar disso, apesar da dureza do câncer, a reflexão sobre o tema pode ser leve de vez em quando. A conscientização e o alerta não precisam ser sombrios, frios e cinzentos. Podem ser, em vez disso, quentes e… cor-de-rosa.

Foi o que fez o Flickr Blog no comecinho de outubro, com a bela entrada Pense Rosa. O blog convida os membros do Flickr a participarem do grupo Pink 2008: cada foto adicionada converte-se em 1 euro doado pelo Yahoo! para organizações européias empenhadas no combate ao câncer de mama, até o montante de 30.000 euros. Neste instante, o grupo conta com quase 19.000 fotos. Eu mandei as cinco aí embaixo. Que tal acrescentar a sua a esse bolo?

Hibisco Estação do Ipê Como deixar um Ka ainda mais esquisito Pontão do Lago Sul Hibisco

Dá para aproveitar as fotos do Flickr (sem ferir direitos autorais) de muitas outras maneiras e passar a mensagem de alerta de forma serena: crie um mosaico, faça um pôster para divulgar o Outubro Rosa ou use o gerador de badges do próprio Flickr, por exemplo.

Você ainda pode gerar um slideshow como este (leitores de feed ou por email precisam ir ao site pra ver):

Usei o imageloopR pra fazê-lo.

Há outros lugares para passear além do Flickr. Pesquise por “pink” no stockxpert e encontrará várias imagens livres de royalties. Ou, ainda, faça uma busca por “pink october” no deviantART e terá muita inspiração para produzir suas próprias imagens.

Se o medo afugenta, a beleza aproxima. Valha-se dela, também, na hora de propagar informações.

Outubro Rosa: câncer de mama, informação e internet

Outubro Rosa Estamos no Outubro Rosa, e as moças do LuluzinhaCamp não podiam deixar passar a oportunidade de falar sobre uma questão tão importante: o câncer de mama. Hoje e pelas próximas terças-feiras do mês, esse é o assunto no Dia de Folga.

O Outubro Rosa surgiu na Califórnia em 1997 e espalhou-se pelo mundo. A idéia é conscientizar sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. O câncer de mama é o que mais mata mulheres em todo o mundo, mas não precisa ser assim: quanto mais cedo o tumor for descoberto, menos invasivo será o tratamento e maiores as chances de cura. No estágio inicial da doença, a expectativa chega a 95%. Vai daí que as visitas anuais à/ao ginecologista, a mamografia frequente a partir de determinada idade (normalmente, 40 anos) e o autoexame são fundamentais.

Aliás, cabe lembrar: o autoexame não deve ser feito como única forma de prevenção. Quando o tumor é detectável no autoexame, é porque já evoluiu – por outro lado, nódulos benignos podem ser confundidos com câncer. O exame clínico e a mamografia são, portanto, indispensáveis como parte da rotina feminina.

A partir de maio de 2009, entrará em vigor a Lei nº 11.664/08, que assegura a todas as mulheres o direito à mamografia periódica realizada gratuitamente pelo SUS após os 40 anos (bem como o exame preventivo de câncer de colo do útero para todas as mulheres sexualmente ativas).

A internet é aliada importante na luta contra o câncer de mama. Nada substitui a visita ao médico, mas a web ajuda com sites informativos, no encontro de mulheres que viveram e derrotaram a doença e na repercussão de ações e campanhas. Alguns exemplos:

Câncer de Mama: Eu Sei o Que é Isso!: mantido pelo Instituto NEO MAMA, há anos fornece mamografias gratuitas a mulheres que não podem pagar pelo exame e conta com a ajuda de todos nesse processo – um clique por dia e você contribui para que as doações de exames pelas entidades apoiadoras continuem.

Enzimas Virtuais: a Dani teve câncer de mama em 2007, superou a doença e criou o blog para compartilhar sua experiência e ajudar outras mulheres na mesma situação.

Esperança e Vida: informa sobre organizações de apoio e centros de diagnóstico na América Latina.

FEMAMA: a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama mantém o projeto Te Toca Brasil, que visa a sanar as deficiências na área de saúde da mama e garantir condições para a cura das mulheres atingidas pela doença.

INCA – Instituto Nacional de Câncer: traz informações técnicas sobre a detecção e o tratamento do câncer de mama.

Mulher Consciente: uma iniciativa da FEMAMA para esclarecer sobre o câncer de mama. Veicula a campanha Não Aceite Informação Pela Metade para divulgar a importância da mamografia.

Susan G. Komen for the Cure (em inglês): arrecada fundos para a pesquisa de tratamentos mais efetivos e, principalmente, de uma cura para o câncer de mama.

Por fim, mas não menos importante, o convite do Plugbr.net: o Silvano convoca os blogueiros (sim, os homens também!) para uma blogagem coletiva no próximo fim-de-semana, dias 11 e 12 de outubro, em prol da conscientização sobre o câncer de mama.