Eu já tinha ouvido um cd dela, há algum tempo. Achei bacana, resolvi ir ao show. Não me arrependi: o espetáculo é sensacional.
Mariana Aydar é uma cantora de primeira. Sua voz é grave, às vezes ligeiramente rouca, muito agradável. A presença de palco é contagiante, tornando quase impossível não mexer o corpo na cadeira ao ritmo da música. Além de talentosíssima, Mariana é uma simpatia, cativando com o sorriso, conversando com o público e fisgando a atenção.
A apresentação dura cerca de uma hora e meia. O ponto forte é o samba em suas várias roupagens: do samba-canção à batida de samba-enredo, de músicas novas a consagradas, de Baden Powell a Zeca Pagodinho. Ainda tem espaço pro xote – a cantora faz questão de lembrar que começou a carreira cantando forró. O clima é bem-humorado, com boas doses de sensualidade e espaço para a crítica social, como na interpretação emocionante de Zé do Caroço – ouça um trecho, com Leci Brandão:
É usual comprar cantoras à incomparável Elis Regina, tanto para elogiá-las quanto para sentar o sarrafo. Mariana Aydar tem expressão e interpretação muito próprias e comparações são desnecessárias. É natural, por outro lado, que uma sambista de mão cheia como ela inclua no repertório Menino das Laranjas, canção que Elis consagrou. Mariana a conduz com primor e, em dado momento, lembra o mito de uma forma muito autêntica.
O show é daqueles que alegram a alma. Diverte mesmo que você não conheça nenhuma música – e deixa com vontade de comprar o cd para ouvi-las todas de novo.
O show da Mariana Aydar abriu o projeto Pode Apostar! no CCBB de Brasília. Hoje é dia do compositor e cantor Rodrigo Campos. A programação continua até 15 de novembro, assim:
- Nina Becker – 1º de novembro
- Fino Coeltivo – 6/11
- Rodrigo Maranhão – 7/11
- Marina de La Riva – 8/11
- Marcelo Jeneci – 13/11
- Curumin – 14/11
- Silvia Machete – 15/11
São apresentações únicas, a 15 reais (entrada inteira). Sextas e sábados às 21 horas, domingos às 20 horas. O projeto quer divulgar cantores ainda em início de carreira mas já premiados, mostrando que, ao contrário do senso comum, a música popular brasileira tem, sim, renovação de qualidade.
O Pode Apostar! também acontece no CCBB do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Show em Brasília é uma coisa complicada. Há poucos espaços bons, é comum ver ingressos a preços irreais e, pra completar, atrasos enormes são frequentes. Na última vez em que me arrisquei, tive de suportar duas horas de espera num local com pouca infraestrutura. Não é culpa dos artistas, mas da organização(?) dos eventos. Depois dessa experiência, só vou a shows em teatros, tanto pelo conforto quanto pela certeza de que a apresentação começará na hora marcada.
O teatro do CCBB é muito bom, mas pequeno – menos de 400 lugares – e os ingressos costumam esgotar-se rapidamente. São postos à venda sempre no domingo que antecede o espetáculo. Procure adquirir o seu no domingo mesmo. A dica vale tanto para espetáculos de música quanto para peças teatrais.