Ano passado, meu presente de natal chegou cedo. Veio sem aviso e sem preparativos, embora fosse desejado há anos. Entrou na minha casa embrulhado em manta azul, mas via-se a carinha branca e rosada.
Esse presente depende de mim para sobreviver, e já não imagino a casa sem ele.
Sim, é um serzinho. Ou melhor, uma serzinha. Ela tem focinho molhado, rabo comprido, patinhas cor-de-rosa e pelo quase todo branco, exceto por uma manchinha na testa. Cresce a olhos vistos. Esfrega-se nas minhas pernas e dá beijinho de esquimó quando chego do trabalho. Dorme sob a minha coberta e rouba-me o travesseiro de madrugada. Chama-se Mel e, você já percebeu, é uma gatinha.
Mel chegou tímida e medrosa, além de muito carente. Um mês depois, é uma mistura de pipoca com carrapato.
Minha gatinha não é uma simples “companhia”, como tantos reduzem a relação com um animal. Companhia é a televisão, o computador ou um bom livro. Mel é um ser único, tem seus quereres, sua personalidade e, agora, conta comigo para mantê-la feliz.
Encaro-a de vez em quando e, por instantes, não acredito que assumi tamanha responsabilidade. Logo eu, a rainha má das plantas, a dedo-cinza dos vasinhos de temperos.
Ela me tira do sério duas vezes por dia, é verdade. Ignora meus nãos, atrapalha meu sono, espalha areia pelo chão e derruba meus enfeites.
Depois, olha-me com ares de “quero colo”, aninha-se, toma banho e adormece tranquila. Todo aborrecimento se vai, e descubro-me amando uma criaturinha quente e ronronante.
Escrito primeiro para o moleco viajante.