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Embora o AdSense e outros programas de monetização estejam espalhados pelos blogs brasileiros há anos, ainda existe um grupo de leitores e blogueiros que acha que ganhar dinheiro com blogs é sujo, impuro e indigno. Quando o assunto é resenha patrocinada, a polêmica aumenta – basta ler os comentários no artigo Celular desbloqueado, bolso feliz, do Conrado Navarro.
Essa mentalidade de que ganhar dinheiro é feio não é de hoje. A colonização portuguesa católica associou o lucro ao pecado, o dinheiro a Mamon, o enriquecimento à alma vendida ao diabo. Veja a diferença de mentalidade na América do Norte. Lá em cima, valoriza-se o self-made man, o cara que subiu na vida por seus próprios méritos, o acúmulo de dinheiro, desde que honesto. Em terras tupiniquins, quem tem sucesso ou dinheiro quase se sente culpado por isso e tem de ouvir o discurso “num país em que tantos passam fome”, yada yada yada.
Exemplo banal: quem ganha o Big Brother Brasil? Quase sempre, o mais coitadinho. É bonito ser coitadinho na terra brasilis.
Na blogosfera, há quem enalteça blogueiro “purista”, “artesanal”, kosher. O sujeito que escreve textos de alto nível e mantém o blog virginal, sem um bannerzinho sequer, é aplaudido. Ele é que entende o que é blogar. De outra parte, quem escreve tão bem quanto (ou melhor, ou pior, não importa) e aproveita pra ganhar uns trocos é mau, corrupto, vendido, porco capitalista.
Como leitora, não vejo nada de mais nos anúncios espalhados pelos blogs de que gosto. Dificilmente clico em algum, é verdade (a uma, porque uso feeds para os ler, quase sempre; a duas, por causa da clássica cegueira para anúncios), mas acho justo que o blogueiro se remunere pelo seu trabalho. Manter um blog tem custos. Além do tempo (que é caro e só uns poucos eleitos conseguem a merecida compensação financeira), há os custos de hospedagem, registro e bricabraques diversos.
Um blogueiro de que gosto foi pago para fazer uma resenha? Ótimo. Lerei sobre o produto sob o ponto de vista de alguém que aprecio e descobrirei mais do que me revelam os anúncios tradicionais. Estarei diante de uma opinião, não de um panfleto. Essa é a maravilha dos blogs: você não recebe apenas informação, mas opinião. Se eu quiser saber onde um filme está sendo exibido, abro um jornal; se quiser opiniões sobre o filme, procuro blogs.
O Nossa Opinião tem planos de fazer resenhas patrocinadas de vez em quando. Se o anunciante paga por uma resenha, é seu interesse que ela seja sincera, aponte os pontos forte do produto, contenha críticas e sugestões. Se o que ele deseja é elogio puro, que apresente o produto somente para sua família. Ou faça uma inserção de 30 segundos na televisão, livre de qualquer pitaco.
Se o produto for muito ruim, a coisa muda ligeiramente de figura. Não é justo que o anunciante pague para ouvir “seu produto é um lixo”. Nesse caso, o melhor é entrar em contato com ele e usar de franqueza: “olha, se eu fizer uma resenha, não ressaltarei nenhuma vantagem do seu produto, porque não há nada de bom nele. Você quer a resenha mesmo assim?”.
Uma única ressalva: da mesma forma que sou favorável às resenhas patrocinadas, acho o fim da picada fazê-las por debaixo dos panos. O blogueiro deve respeito aos seus leitores – sejam eles 6 ou 600.000. Quando surgir por aqui uma resenha patrocinada, você pode ter certeza de que haverá um aviso no início do texto (e, provavelmente, outro no fim, seguindo a deixa da Joaninha).
Mas lógico que é valido e honesto fazer resenhas patrocinadas.
Não entendo esse povo e sinceramente, não acho que tenham muitos motivos acima da inveja do sucesso de um colega.
No Brasil – que é um pais de religião livre – se tem muito desses vícios culturais pregados pelas religiões, antigamente era a católica, logo será das evangélicas. No Brasil existe muito preconceito com pessoas que ganham dinheiro de forma legal, mas diferenciada. Dinheiro honesto dessa maneira não pode ser ganho sozinho.
E é assim, todo mundo quer um pouco do teu dinheiro sem fazer esforço, chama isso de “jeitinho brasileiro” (que é muito mais amplo que isso), mas muitos que te acusam hoje, amanhã farão o mesmo e também terão atitudes semelhantes as tuas.
Para isso tem um ditado: pimenta nos olhos dos outros é refresco!
E é isso pimenta nos olhos dos blogueiros querendo uma renda com algo que gastam tempo e dinheiro e é refresco para os que não fazem nada para ter uma renda decente e esperam como coiotes para roubar o esforço de outro.
Acho que a questão transcende a questão dos custos do blog, e sim quanto vale uma determinada informaçao divulgada por um grupo de formadores de opinião. Acho que é válido que uma determinada empresa submeta seu(s) produto(s) para algum blogueiro emitir uma OPINIÃO, doa a quem doer. E aí, no outro lado da balança está a credibilidade do blogueiro versus as intenções da empresa.
Meu blog não tem o menor inuito de maximizar pageviews, nem de ganhar dinheiro seja lá como for. Mas se por exemplo um determinado empresário me pede para dar uma opinião sobre um produto (pressupondo que eu fosse formador de opinião em algum ramo), eu primeiro testo, mostro o que eu acho para ele, e aí sim decidimos se vai ao ar ou nao, e quanto vale o show. Não sei se estou sendo simplista demais, mas pra mim acho que assim que devia funcionar.
Fantástica a sua argumentação sobre a interpretação do “bem sucedido” no Brasil. Tirou da minha boca, parabéns. Quem vence é necessariamente sacana, explorador e bandido. Quem sofre, é por culpa da falta de sorte e dos exploradores do sistema…
leia no Nossa Opiniao a minha opiniao sobre este projeto.
Concordo com os argumentos da Fanny.
As pessoas parecem não entender bem que um blog é uma página pessoal, é como você sempre diz, a opinião da pessoa está ali. Se ela quer ganhar dinheiro com isso ou não, para mim não tem a menor importância. Não concordo com todos os textos dos meus blogs favoritos, até mesmo aqui no Dia de Folga já discordei várias vezes de sua opinião, mas isso só reforça o fato de que sou sua leitora e penso sobre o que você escreve.
Não vejo nada demais em blogueiros serem pagos para escrever uma resenha, ou colocarem anúncios, nem nada do tipo. Eu particularmente não coloco anúncios em meu blog, pois não me dedico ao blog como meu hobby principal, então se não vou me dedicar 100% para gerar um conteúdo e atrair pessoas que clicam em anúncios não vejo porque colocá-los. E graças a você, hoje leio meus blogs favoritos pelo feed. Mas é muita bobagem quem fica reclamando que existe uma alma blogueira, e ela fez voto de pobreza, ó céus.
Dudu, é mais ou menos assim que funciona, só que o valor da resenha é combinado antecipadamente. Como eu disse no artigo, acho que não vale esculhambar o produto; por outro lado, como você ressaltou, o blogueiro precisa manter sua credibilidade e não pode elogiar algo só por estar sendo pago. É, realmente, um equilíbrio delicado.
Bia, acho o máximo quando comentaristas discordam com argumentos interessantes, como você. Isso enriquece o blog e a blogueira. Esse diálogo, normalmente ausente na mídia tradicional, é uma das belezas da blogosfera.
Amei a “alma blogueira que fez voto de pobreza”. 😀
Maldito dia que me deram esse apelido, hahaha. (ou seria, Maldita Big Brother?)
Bia, eu sou (ou pelo menos é o que minha mãe diz) homem! Fanny, é uma versão tosca do desenho Doug Funny, saca? uhauhahua
Enfim, só para deixar claro :p
Me impressiona a forma como esse assunto é recorrente. Eu chego à conclusão de que ganhar dinheiro é bonito, mas mentir é feio.
Se o blogueiro está sendo franco em sua opinião, que venda quantas resenhas patrocinadas quiser. Os leitores que vão dizer quando saturar ou não.
O que não pode é ter blogueiro vendendo opinião, vendendo espaço de divulgação e fingindo que não recebe por isso.
Desde que seja informado ao leitor que o post é patrocinado, não vejo problema algum. Eu nunca recebi propostas assim, mas se fosse um produto legal, com o qual me identificasse, faria com certeza, mesmo que fosse para criticar.