Leia a notícia: Justiça afasta conselheiro de entidade ligada à UnB por suspeita de uso irregular de cartão (via Folha Online).
A Justiça é o TJDF. O conselheiro é Nelson Martim. A entidade é a Finatec. O cargo que Martim ocupava era, veja só, a presidência do Conselho Fiscal. O cartão é o de crédito do governo, claro – essa excrecência chamada cartão corporativo.
O gasto: 470 mil reais para redecorar o apartamento funcional de Timothy Mulholland, reitor da Universidade de Brasília. A justificativa: o cargo de Mulholland é de grande visibilidade, o que justifica a redecoração do seu apartamento funcional. A cereja do bolo: entre as aquisições, há lata de lixo de quase mil reais.
Agora, as perguntas que não querem calar:
- Desde quando reitor de universidade tem tanta visibilidade assim, neste país de iletrados?
- Em que país um governo compra uma lixeira de mil reais? Na Suécia, vá lá, eu entenderia. Mas aqui no Brasil, onde mal se tem saneamento básico?
- Como anda a UnB? Porque, da última vez em que eu estive lá, era assim: banheiro interditado; bebedouro desligado; quadros negros gastos; carteiras quebradas; alunos sem professores; estacionamentos sem segurança. Isso para apontar só alguns problemas que, aliás, são comuns a todo o ensino público.
- Será que os dirigentes da universidade não podiam aproveitar sua, er, influência junto ao governo Lula para corrigir um pouco do tanto que há por fazer, em vez de rasgar dinheiro?
Não, claro que não. Porque a coisa funciona assim: se seus adversários estão no poder, você diz que as condições da instituição são péssimas porque o governo não libera verbas; se o poder está com seus cupinchas aliados, você aproveita pra encher os bolsos, a cueca, as malas.
A universidade? Que se exploda, como diria Justo Veríssimo, junto com o resto do Brasil.
Meu silêncio fala (!) por si só: — .
O pior é saber que, amanhã ou depois, o assunto cairá no esquecimento, para a alegria dos usuários dos cartões do governo… Eu espero, ao menos, que os estudantes da UnB façam um protesto digno de universitários…
Essa (des)invenção chamada Cartão Corporativo, alargada pelo nosso digníssimo atual presidente da República, até agora, como verifiquei, só trouxe mais daquilo que o Brasil precisa de menos, facilidades pros cupinchas governamentais. Vou embora pra Síria que eu ganho mais…
“Não, claro que não. Porque a coisa funciona assim: se seus adversários estão no poder, você diz que as condições da instituição são péssimas porque o governo não libera verbas; se o poder está com seus aliados, você aproveita pra encher os bolsos, a cueca, as malas.”
Melhor definição sobre política que li nos ultimos 5 meses. Parabéns!
Outra coisa: fazia tempo que eu não escutava (ou lia) a expressão “cupinchas”. hahahahahha
Thássius, pois é, mais um absurdo pra lista infindável…
Emerson, eu já ia te falar que isso seria impossível, porque os estudantes da UnB adoram o PT, mas ontem li que o DCE (Diretório Central dos Estudantes) vai pedir a cabeça do Mulholland. Tomara que prossigam e consigam.
Meyviu, o cartão até funcionaria, se nossos políticos fossem sérios e comprometidos, mas parece que isso é pedir demais.
Fanny, obrigada! E “cupincha” é uma palavra que adoro!