O cinema perdeu hoje, 30 de julho de 2007, um de seus maiores expoentes: Ingmar Bergman morreu aos 89 anos, em seu país, a Suécia. Não vou me preocupar em traçar a biografia dele – você pode saber mais sobre o diretor na Folha de São Paulo.
Bergman faz parte de um estilo cinematográfico que está praticamente extinto: filmes de arte, contemplativos, com longos silêncios forçando à introspecção, carregados de referências filosóficas e psicanalíticas. Em tempos de superproduções hollywoodianas, com seus megafilmes arrasa-quarteirão, lotados de estrelas e efeitos especiais, quem tem tempo e paciência para a assistir a duas horas de filosofia em forma de filme?
Os cineastas populares atuais que chegam mais perto do cinema de arte são Woody Allen e Pedro Almodóvar. Nem sempre pela contemplação, mas pelos múltiplos sentidos que se pode enxergar na maioria de suas produções. Como são queridinhos da mídia (e é chique dizer que se gosta deles), conseguem altas bilheterias, mas nem tanto quanto o cinema-pipoca.
Dos mais de 50 filmes de Bergman, assisti a Gritos e Sussurros (Viskningar Och Rop) e O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet).
O Sétimo Selo (1957), filmado em preto e branco, se passa na Idade Média, numa região dizimada pela peste. Sua cena emblemática é o jogo de xadrez entre a Morte e o protagonista (um cavaleiro das Cruzadas), que tenta dar significado à vida.
Gritos e Sussurros (1972) traz uma fotografia marcante (que, inclusive, levou o Oscar em 1974) e carrega nos tons fortes, como o vermelho (Almodóvar também usa e abusa de cores vivas). O forte impacto visual é contraposto ao silêncio das personagens.
Se você gosta mesmo de cinema, vale a pena procurar uma locadora que conte com filmes de arte. Inicialmente, pode ser difícil adaptar-se à linguagem que ultrapassa as fronteiras de Hollywood, mas com o tempo perceberá como é gratificante e informativo ampliar o leque – além de divertido, é claro.
Atualização: como se não bastasse, horas depois morreu Michelangelo Antonioni, outro monstro do cinema, como lembrou o Dudu Tomaselli. De Antonioni, vi L’Avventura (1960) e Blow-Up (1966). L’Avventura não me envolveu, ao contrário de Depois Daquele Beijo (título que Blow-Up recebeu no Brasil).
Blow-Up captura a atenção da primeira à última cena. Ousado e transgressor para os anos 60, o filme merece ser visto e revisto, já que novos significados são apreendidos pelo espectador a cada exibição. Blow-Up é ainda mais interessante para o cinéfilo que aprecia fotografia – não só pelas suas belas tomadas, mas especialmente porque o protagonista é um fotógrafo e em torno de uma imagem fotografada por ele se desenrola a trama (“blow-up” é a ampliação de um detalhe de uma fotografia). Sem exagero, um dos filmes mais interessantes que já vi, obra obrigatória para os fãs da sétima arte.
A cena ao lado, logo do início do filme, foi copiada em alguma produção recente… só não me lembro em qual!
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