Renato Russo no MIS

Adolescentes costumam ter um monte de ídolos, com os correspondentes pôsteres no quarto. Bem, eu tinha pôsteres de Star Trek e queria ser como o Spock quando crescesse. Não exatamente uma adolescente típica.

Apesar disso, eu tinha uma ou outra banda favorita. A partir dos 14 anos, uma se destacou: a Legião Urbana. Dois anos depois, morria Renato Russo. Nunca tinha chorado pela morte de famosos (não, nem pelo Ayrton Senna), mas dessa vez chorei. Renato nunca chegou a ser meu ídolo – felizmente, porque ele odiava receber esse título -, mas sempre me pareceu um artista admirável e várias das suas músicas marcaram momentos da minha vida, ao longo de anos e décadas.

Vai daí que não podia deixar passar a exposição do Renato Russo no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, muito embora já tivesse visto uma exposição excelente no CCBB de Brasília em 2004 (putz, já faz tanto tempo assim?).

A exposição do MIS tem muita coisa em comum com a do CCBB na década passada (ainda estou em choque), mas é maior e mais diversificada. Começa traçando um cenário do Renato criança e adolescente, os boletins, as mudanças de escola e de país, as bandas fictícias – com direito a entrevistas e discografia, tudo minuciosamente anotado em cadernos -, até enfim ter sua primeira banda, o Aborto Elétrico. Também fala da fase do Trovador Solitário, mas o maior enfoque está mesmo no período da Legião. Dentre as centenas de materiais, os que me parecem mais interessantes são os rascunhos de letras que se tornaram hinos. É interessante ver o processo criativo, as primeiras versões, a evolução das letras e como alguns pedaços iam parar em outras canções.

Renato Russo no MIS
Bata usada em shows.

Há vários objetos pessoais, vindos diretamente do apartamento de Renato, na Rua Nascimento Silva, 378, Ipanema. Aliás, a exposição aconteceu porque seu filho, Giuliano Manfredini, viu uma sobre David Bowie no mesmo museu, procurou a organização e propôs uma semelhante sobre o Renato. No processo, franqueou acesso ao apartamento em que Renato passou seus últimos seis anos de vida. Dali vieram objetos de decoração, diários, cartas e tantas outras coisas. Segundo André Sturm, curador da exposição, foram mais de três mil itens transplantados para o MIS. A exposição exibe mil deles, como, por exemplo, algumas camisetas do artista:

Renato Russo no MIS Renato Russo no MIS

A organização da mostra é aparentemente caótica (embora tenha certa lógica interna), talvez numa tentativa de reverberar o pensamento não-linear do retratado. Canções seguem o visitante por todo o percurso. Já ao final, uma grande parede coberta de cartas de fãs, algumas tocantes. A última sala guarda um vídeo em realidade virtual com uma apresentação contemporânea de Tempo Perdido.

Renato Russo no MIS
Planejamento do disco As Quatro Estações.

Dentre as diferenças para a exposição de Brasília está o espaço dado a um dos períodos mais turbulentos da vida de Renato, em 1993, quando ele percebeu que não tinha controle sobre o consumo de álcool e drogas e se internou. Os diários que manteve na época trazem passagens emocionantes. A solidão, a baixa autoestima e o medo do fracasso sempre acompanharam o astro, destoando do seu sucesso público e contrastando com os milhares de fãs que lotavam shows, garantiam as altas vendagens dos discos e professavam seu amor por Renato.

A exposição estreou em setembro de 2017 e fica no MIS até 28 de janeiro de 2018. A entrada custa 30 reais (inteira) e é vendido pelo site Ingresso Rápido (mediante abusiva “taxa de conveniência”) ou diretamente na bilheteria. Pelo site, é possível agendar o horário da visitação.

Vale a visita para os que conhecem pouco ou muito do líder da Legião, banda que indiscutivelmente marcou uma geração e escreveu páginas importantes da história do rock brasileiro.

Serviço

As melhores trilhas sonoras de séries

Já ouvi gente (que alegadamente “entende de cinema”) dizer que trilha sonora boa é aquela que passa despercebida. Suponho que essas pessoas são as mesmas que odeiam musicais.

Uma boa trilha sonora não é necessariamente a que passa despercebida (embora isso possa fazer sentido em filmes de ação, por exemplo), mas a que compõe com o filme, com o enredo, com o cenário. Uma trilha sonora realmente bem feita ajuda a contar a história. Em alguns casos, torna-se até um personagem da própria história.

Embora desde sempre eu repare em trilhas de filmes, só mais recentemente comecei a me ligar em trilhas de seriados – e meu, algumas são absolutamente maravilhosas. Estava pensando em fazer uma lista das melhores trilhas de séries, mas alguém já fez antes, e muito bem: As 10 melhores séries por suas trilhas sonoras. Eu acrescentaria, ou melhor, faria uma menção honrosa a E.R. (Plantão Médico), que fez um excelente uso de Chasing Cars numa das últimas temporadas e que narrou a morte do querido Dr. Greene, na oitava temporada, numa sequência que me emociona até hoje.

Se eu tivesse que fazer um Top 3, as melhores trilhas sonoras de seriados seriam:

3. The O.C.: muito rock, muito pop e músicas que marcaram cenas decisivas, como a morte de MarissaOriginalmente, nem considero Hallelujah uma música tão triste, mas depois desse episódio… bem, ela entraria facilmente num Top 5 de músicas mais melancólicas da história.

2. House: you can’t always get what you want deixou de ser “apenas” um trecho de letra para tornar-se uma das frases marcantes do personagem-título. As boas escolhas começaram na música de abertura e não pararam mais. É a série com trilha mais eclética, indo do clássico ao techno, com direito a solos de piano do multi-instrumentista Hugh Laurie.

Supernatural - Sexta Temporada

1. Supernatural: minha trilha favorita no momento. Os irmãos Winchester percorrem infindáveis quilômetros na caçada a monstros e demônios, e é claro que música é fundamental na estrada. Dean Winchester dá o tom – quem manda no som do seu Impala é ele, claro – e o rock impera. Carry On My Wayward Son é umas das mais perfeitas escolhas de todos os tempos em termos de trilha sonora.

Você costuma reparar nas trilhas sonoras dos seriados que acompanha? Quais as suas favoritas?

Meu Top 5 de Músicas Bregas

Inspirado pelos comentários recentes sobre Michel Teló (vamos combinar que já apareceu coisa muito pior que ele), o Janio fez uma coletânea de músicas bregas dos anos 70 e 80. Já eu, inspirada pelo meu amigo, fiz minha própria seleção, meu Top 5 de músicas bregas dos anos 80 e 90. Duvido que você não cante junto com a maioria desses vídeos!

1. O Amor e o Poder (“Como uma deusaaaaaa…”)

A primeira música brega que grudou na minha memória – e na de muita gente que nasceu no fim dos anos 70 e acompanhou a novela Mandala. O clipe é brega, a dancinha é brega, mas a Rosana fazia um sucesso monumental e era considerada uma “cantora romântica”. Afinal, qual é a linha que separa o romântico do brega?

 2. Volta Pra Mim (“Amanheci sozinho… na cama, um vaziiio…”)

Adooooro Roupa Nova até hoje, mas admito que de vez em quando (sim, só de vez em quando) eles são bregas até a medula. Essa música marcou meus 8 anos. Eu costumava cantar a plenos pulmões no quintal de casa, enquanto brincava no balanço.

3. Desculpe, Mas Eu Vou Chorar (“As luzes da cidade acesas, clareando a foto sobre a mesa…”)

Grandes Leandro e Leonardo! O sr. e a sra. Monte estavam retidos em algum lugar de Salvador devido a uma chuvarada típica de verão e eu estava no apartamento, vendo algum programa de auditório, quando começou essa música. Decorei a letra quase imediatamente.

4. Evidências (“Eu sei que te amo!”)

Essa a gente praticamente gritava o refrão no ônibus escolar, tentando imitar o timbre do Chitãozinho e Xororó, pra desespero do motorista.

5. Se Você Quer (“Mas eu sempre fui assim, um boêmio um sonhador, pela vida apaixonado.”)

O sr. Monte ia me pegar na escola em 1992 e duas músicas sempre tocavam durante o trajeto de volta: Listen to yout heart (Roxette) e esse dueto da Fafã de Belém com o Roberto Carlos. Alguém aí lembra de um sujeito que ia num programa de auditório (Domingão do Faustão?) e fazia as duas metades do dueto, inclusive com roupas, cabelo e maquiagem?

Faixa-Bônus: O Grande Amor da Minha Vida (“O tempo passou e eu sofri calado…”)

A Nova Brasil FM insistia em tocar essa música do Gian e Giovani insistia em tocar enquanto eu ia pra faculdade. Nunca esqueci o finzinho da música:

Eu ia dizer que estava apaixonado
Recebi o convite do seu casamento
Com letras douradas num papel bonito
Chorei de emoção quando acabei de ler
Num cantinho rabiscado do verso
Ela disse meu amor eu confesso
To casando mais o grande amor da minha vida é você

Aposto que você também tem sua seleção pessoal de músicas bregas. Compartilhe!

Mariana Aydar arrasa no palco.

Eu já tinha ouvido um cd dela, há algum tempo. Achei bacana, resolvi ir ao show. Não me arrependi: o espetáculo é sensacional.

Mariana Aydar é uma cantora de primeira. Sua voz é grave, às vezes ligeiramente rouca, muito agradável. A presença de palco é contagiante, tornando  quase impossível não mexer o corpo na cadeira ao ritmo da música. Além de talentosíssima, Mariana é uma simpatia, cativando com o sorriso, conversando com o público e fisgando a atenção.

A apresentação dura cerca de uma hora e meia. O ponto forte é o samba em suas várias roupagens: do samba-canção à batida de samba-enredo, de músicas novas a consagradas, de Baden Powell a Zeca Pagodinho. Ainda tem espaço pro xote – a cantora faz questão de lembrar que começou a carreira cantando forró. O clima é bem-humorado, com boas doses de sensualidade e espaço para a crítica social, como na interpretação emocionante de Zé do Caroço – ouça um trecho, com Leci Brandão:

É usual comprar cantoras à incomparável Elis Regina, tanto para elogiá-las quanto para sentar o sarrafo. Mariana Aydar tem expressão e interpretação muito próprias e comparações são desnecessárias. É natural, por outro lado, que uma sambista de mão cheia como ela inclua no repertório Menino das Laranjas, canção que Elis consagrou. Mariana a conduz com primor e, em dado momento, lembra o mito de uma forma muito autêntica.

O show é daqueles que alegram a alma. Diverte mesmo que você não conheça nenhuma música – e deixa com vontade de comprar o cd para ouvi-las todas de novo.

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O show da Mariana Aydar abriu o projeto Pode Apostar! no CCBB de Brasília.  Hoje é dia do compositor e cantor Rodrigo Campos. A programação continua até 15 de novembro, assim:

  • Nina Becker – 1º de novembro
  • Fino Coeltivo – 6/11
  • Rodrigo Maranhão – 7/11
  • Marina de La Riva – 8/11
  • Marcelo Jeneci – 13/11
  • Curumin – 14/11
  • Silvia Machete – 15/11

São apresentações únicas, a 15 reais (entrada inteira). Sextas e sábados às 21 horas, domingos às 20 horas. O projeto quer divulgar cantores ainda em início de carreira mas já premiados, mostrando que, ao contrário do senso comum, a música popular brasileira tem, sim, renovação de qualidade.

O Pode Apostar! também acontece no CCBB do Rio de Janeiro e de São Paulo.

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Show em Brasília é uma coisa complicada. Há poucos espaços bons, é comum ver ingressos a preços irreais e, pra completar, atrasos enormes são frequentes. Na última vez em que me arrisquei, tive de suportar duas horas de espera num local com pouca infraestrutura. Não é culpa dos artistas, mas da organização(?) dos eventos. Depois dessa experiência, só vou a shows em teatros, tanto pelo conforto quanto pela certeza de que a apresentação começará na hora marcada.

O teatro do CCBB é muito bom, mas pequeno – menos de 400 lugares – e os ingressos costumam esgotar-se rapidamente. São postos à venda sempre no domingo que antecede o espetáculo. Procure adquirir o seu no domingo mesmo. A dica vale tanto para espetáculos de música quanto para peças teatrais.