No meu tempo…

Antigamente dizia-se que o Brasil tinha [número de habitantes aqui] de técnicos de futebol porque todo mundo se achava no direito de dar pitaco em toda escalação, lance, competição etc.

Hoje são 200 milhões de juristas, 200 milhões de pedagogos, 200 milhões de cientistas políticos… semana passada, tínhamos 200 milhões de papologistas:15 minutos depois de anunciado o novo papa já havia quem cravasse que o papa é de direita, ou de esquerda, ou de centro, ou progressista, ou conservador, ou defensor do MAGA, ou fã da teologia da libertação, ou comunista, ou vendido ao capitalismo…

A internet amplifica e cristaliza os pitacos como a mesa de bar nunca foi capaz de fazer. No boteco, pelo menos ouvíamos as opiniões contrárias dos amigos; na internet, ficamos trancados nas bolhas das redes sociais. Tenho a impressão que a polarização política piorou esse fenômeno, mas também pode ser que as bolhas tenham piorado a polarização política. Tostines é fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque é fresquinho? Faz alguma diferença?

A era de ouro dos blogs era mais parecida com a proverbial mesa de bar do que com a conformação atual das redes sociais. Sem algoritmos, as afinidades surgiam de forma orgânica e as bolhas eram de sabão, não de blindex. Os trolls eram poucos e devidamente ignorados. Os textos eram mais leves, as opiniões não pareciam gravadas nas tábuas das salvação.

“No meu tempo é que era bom”. Ah, o saudosismo. Já cheguei nessa fase da vida. Volta e meia tento ressuscitar o Dia de Folga, mas a certeza de que “nada será como antes” somada à impressão de que ninguém mais lê um texto construído em parágrafos me fazem sempre desistir.

Aí apareceu o substack e alguns blogueiros das antigas migraram para lá. Na falta do google feeds ou do feedburner (eles sim é que eram bons… ops), o email funciona como um substituto decente para ler textos bacanas que lembram os posts da saudosa (ops, fiz de novo) blogosfera raiz.

Tudo isso pra dizer que criei um substack.

A ideia é postar textos que eu publicaria no Dia de Folga em seus tempos áureos, ou no instagram/twitter/facebook/bluesky/insira-aqui-sua-rede-social quando eu ainda achava que valia a pena postar neles. A vantagem, pra você, é receber os textos na comodidade do seu email para ler quando (se) quiser; para mim, é poder me iludir pensando que alguém está, de fato, lendo o que escrevo, sem a barreira dos algoritmos ou a frustração das rolagens infinitas.

Não vou definir metas de periodicidade ou de conteúdo. Quando eu atingir a meta, dobrarei a meta.

Como o substack pode desaparecer a qualquer momento, os textos também serão publicados no Dia de Folga, em uma espécie de backup.

Bora ver se funciona? Bora.

Simplificando

Outro dia, a Lud escreveu sobre toda a complicação em que se transformou o ato de blogar. Também sou old school: o DdF faz 13 anos em 2016. Era bem diarinho no início, e meio que agradeço o fato de que a maioria desses primeiros posts sumiu quando migrei do Weblogger para o WordPress, em 2005 (embora tenha todos arquivados e tenha republicado as resenhas de filmes e receitas).

Depois veio a onda dos blogcamps (fui a alguns), da monetização, da profissionalização, dos publieditoriais. Tudo muito interessante no início, mas não era a minha praia. E olha, eu bem que tentei. Aprendi a usar AdSense, cheguei a fazer publis e participei de uma ou duas ações que curti muito (a do CCBB sempre estará no meu coração). Mas também aparecia muita tralha no meio, como a vez em que entraram em contato comigo às dez da manhã pedindo um publi até meio-dia pra uma empresa da qual não gosto. Claro que eu disse não, o que me colocou na lista negra da referida agência (olha a minha ruga de preocupação).

Com o tempo, toda essa profissionalização dos blogs – e, nos últimos tempos, a impressão de que só blogs de tecnologia e de moda despertam algum interesse – foi uma razão (entre outras) pra eu deixar o DdF um tanto abandonado, e foi também um dos principais motivos pra matar meus blogs de nicho (mas os posts estão todos aqui, preservados).

A questão é que blogar não tem que ser algo profissional, ou focado, ou com fotos para quebrar o texto, ou com qualquer outra regra. Blogar é escrever. Apenas escrever. O resto é detalhe.

Isso tem tudo a ver com a nova fase do DdF. Pra marcá-la, um visual novo – gratuito, com algumas modificações e o cabeçalho feito pela queridíssima amiga Nospheratt, seguindo a mesma linha do que ela fez pro meu twitter -, sem AdSense, com mudança de slogan (ainda em construção) e de ícone (sai a rodela de laranja, entra a xícara de café), sem a obrigação de caçar imagens pros posts e sem linha editorial definida (não que alguma dia eu tenha, realmente, conseguido seguir uma linha editorial). Afinal, nada mais justo que as mudanças dos últimos meses reflitam também no blog.

Blogs estão mortos? Só se for para o seu coração ingrato.

No começo do mês voltamos a 2007, com a reedição do velho debate sobre a morte dos blogs. A Simone resumiu a discussão e concordo integralmente com as opiniões dela (no texto e nos comentários).

Novos tempos, novas mídias.

A tv não matou o rádio, o videocassete não matou o cinema e a internet não matou os jornais – bem, mais ou menos. Talvez essa seja a exceção que confirma a regra. Enfim. Meios convivem, prestam-se a diferentes fins, transformam-se, cedem espaço, mas não morrem. Os vídeos e as redes sociais não mataram – e não matarão – os blogs.

Dia de Folga, obviamente, não é exemplo do que estou dizendo. O estado semicomatoso dos meus blogs é uma vergonha, eu sei. Felizmente, tem muita gente boa que bloga com frequência, opina, informa e diverte. Quer exemplos? Seguem dez, selecionados diretamente do meu Feedly (sim, eu ainda uso agregador de feeds; sim, ainda xingo os blogs que não se dão ao trabalho de ter feeds – sério, gente, cuidem dos feeds dos seus blogs). A escolha foi baseada na frequência de atualizações, na diversidade dos temas e, obviamente, na qualidade.

Resumindo: blogs estão vivíssimos e tem blog pra todo gosto. Basta passear um pouquinho pela web.

Imagem: Michael Dales, cc.