Mudança de hábitos – e mais leitura.

Uns anos atrás, li O Poder do Hábito, de Charles Duhigg. Embora o livro seja classificado como autoajuda, não se trata de uma coleção de frases de efeito. Ao contrário, Duhigg mostra, por meio de uma leitura agradável e usando um monte de pesquisas como embasamento, como todos nós somos criaturas de hábitos e, principalmente, como podemos moldar nossos comportamentos.

Duhigg mostra que todo hábito começa com uma “deixa”, um “gatilho”. Esse gatilho pode ser um horário (por exemplo, a hora que você acorda), uma atividade anterior (o almoço), um lugar (o shopping) ou até uma emoção ou pensamento (cansaço, frustração etc.).

O gatilho detona um comportamento rotineiro, como escovar os dentes, tomar um cafezinho, fazer uma compra ou comer. O comportamento, por sua vez, gera uma recompensa: liberação de endorfinas causadas por um chocolate ou uma roupa nova, sensação de alerta etc.

Conhecendo esse fluxo gatilho-comportamento-recompensa, fica mais fácil identificar os hábitos que mal percebemos e, principalmente, torna-se possível alterá-los. Se, por exemplo, você quer começar a fazer exercícios, o processo ficará mais fácil com a fixação de uma boa recompensa (perder peso, ou entrar numa determinada roupa) e de um gatilho eficiente (sair do trabalho e ir direto pra academia). Quanto menos você tiver que pensar no dia-a-dia para realizar o comportamento, ou seja, quanto mais automático ele for, maior a probabilidade de ele se tornar um hábito.

O processo vale para criar novos hábitos (por exemplo, acordar cedo) ou substituir hábitos ruins (como fumar) por bons hábitos. O mecanismo é simples, mas nem sempre é fácil. Quanto mais eficazes o gatilho e a recompensa, menos difícil será criar bons hábitos. Vale o método tentativa-e-erro: se uma determinada recompensa não motiva o suficiente, pense em outra; se um gatilho não funcionou, tente outro.

Recomendo fortemente a leitura do livro: por meio dos diversos exemplos que ele dá, fica mais fácil entender o conceito. A leitura é altamente motivadora.

E por que estou falando tudo isso?

Porque, ao por em prática esses conceitos, finalmente consegui me livrar de um hábito inútil e adquirir um que me deixa contente: parei de rolar a tela do facebook por vários minutos – que, no fim de um dia, viraram horas – e voltei a ler com frequência.

Como era o hábito:

  • Gatilho: o despertador de manhã cedo
  • Comportamento: pegar o celular na mesa de cabeceira e rolar o facebook
  • Recompensa: ficar na cama curtindo a preguiça por vários minutos em vez de ter que levantar de um pulo; de quebra, eu tinha a sensação de ter feito algo de útil, informando-me.

O problema: a recompensa (despertar com calma) era ótima, mas logo depois caía a ficha do tempo perdido. Rolar a timeline do facebook não acrescentava muita coisa. Na verdade, dificilmente se pode chamar de “útil” esse comportamento. No melhor dos dias, eu via algum vídeo bonitinho com gatos; no pior cenário, ficava aborrecida logo de manhã por causa de algum texto babaca.

No fim das contas, a recompensa não compensava mais, só que o hábito estava arraigado.

Por outro lado, sempre reclamo que não tenho tempo o suficiente pra ler, que à noite, antes de dormir, estou cansada e acabo dormindo após cinco páginas, que o kindle está cheio de livros começados… e minha resolução de ano novo mais frequente é ler mais.

Lembrando o mecanismo explicado em O Poder do Hábito, a solução me pareceu óbvia para matar dois coelhos com uma cajadada só.

O novo hábito:

  • Gatilho: o despertador de manhã cedo
  • Comportamento: pegar o kindle ou o livro físico na mesa de cabeceira
  • Recompensa: ficar na cama curtindo a preguiça por vários minutos em vez de ter que levantar de um pulo; de quebra, a sensação de ter feito algo produtivo ou divertido, a depender do livro escolhido.

O gatilho permaneceu o mesmo porque eu queria substituir um hábito por outro. A recompensa imediata também permaneceu a mesma (tempo de “preguiça” na cama). Só que, dessa vez a sensação de ter feito algo bacana é real – trata-se de uma recompensa mediata que não existia antes, e que me motiva ainda mais a manter-me longe do hábito antigo e cultivar o novo.

Como resultado, em pouco mais de 30 dias li quatro livros e estou bastante contente com o prognóstico de leituras para 2018.

Ainda estamos no começo do ano. Que hábito antigo você vai abandonar em 2018? Que novo hábito vai cultivar?

E as promessas de ano novo, como vão?

Sempre digo que não vou fazer promessas de ano novo… e sempre faço. Em regra, costumam ser tentativas de criar novos hábito. Algumas são bem-sucedidas, outras nem tanto.

Esse ano, a coisa foi bem mal em janeiro. Aí, resolvi procurar algum app pra ajudar a acompanhar as tais resoluções de ano novo – e claro que achei vários. Para Android, os mais populares são o Goal Tracker (mais direto) e o Rewire (mais bonitinho). Só que ambos têm o mesmo defeito: os hábitos a acompanhar devem ser diários. Eu queria estabelecer também algumas rotinas semanais.

Pesquisei um pouco mais e encontrei o Pledge. É bonitinho, amigável e permite agendar hábitos em outra periodicidade que não a diária. Além disso, dá pra programar lembretes, pra não acontecer de você só se lembrar o que deixou de fazer ao longo do dia quando já se prepara pra dormir.

Até agora, tem funcionado bem. Não vou dizer que sempre me lembro das minhas resoluções, mas pelo menos sempre sou lembrada delas. Isso ajuda a cumpri-las. Ou a desistir delas (meditação, estou olhando pra você).

P.S. se você tiver sugestões de apps semelhantes pra iphone, compartilhe nos comentários.

P.P.S. sim, todos os apps são em inglês, mas são bem fáceis de usar, bem visuais – e você cria as “promessas” no idioma que preferir.