A Aquarela Como Âncora

Em 2022, adicionei mais uma âncora à minha busca por sanidade e leveza: a aquarela.

Sendo canhota, tenho duas mãos direitas para artes. Só que adoro papelaria e afins, então desde 2017 flerto com técnicas que me permitam usar (e comprar) coisas legais. Primeiro foi o lettering, depois o desenho e, mais recentemente, a aquarela. Nada disso é excludente, tudo se complementa, mas faz um tempinho que é a aquarela que me atrai mais.

A primeira aventura nas tintas foi em 2018, uma pera realista em A4 que me tomou horas. Era uma aula gratuita da Anna Mason. Foi legal, mas em seguida coloquei o material de lado. De lá para cá, fiz algumas tentativas de retomada e a coisa começou a se firmar em 2021, com os cursos da Domestika e do Skillshare.

Em 2022, decidi praticar pelo menos 4 vezes por semana, ainda que por meia hora. Para manter a motivação, fiz o livro 15-Minute Watercolor Masterpieces, da @dearannart de capa a capa. O fim coincidiu com a abertura da turma de aquarela da Juliana Rabelo e aí a coisa ficou séria. Eu sentia falta dos fundamentos e de entender o que estava fazendo, e a Ju supriu essas lacunas. Foram 5 meses riquíssimos, com muito aprendizado, feedbacks atenciosos da professora e a companhia de uma turma maravilhosa. A Ju, que tem um blog cheio de conteúdo útil para quem está começando, abrirá nova (e provavelmente última) turma amanhã, dia 22 de janeiro de 2023, e recomendo demais.

Perto do fim do curso, já me sentindo órfã, resolvi aproveitar a black friday e garanti o acesso por um ano ao Portal Aquarele-se, da Chiara Bozzetti. Há módulos e apostilas, além de uma atenção ao desenho, algo que eu queria desenvolver. É um curso mais solto, mais com cara de ateliê mesmo, e acho bom ter alguma base para aproveitá-lo ao máximo. A Chiara faz lives no youtube todas as segundas-feiras e é um ótimo modo de conhecer a forma como ela ensina arte.

Tudo isso pra dizer que, se você está precisando de algo que recarregue as baterias e que motive além da produtividade ou do pagar-os-boletos, desejo de coração que encontre esse algo em 2023. Pode ser arte, entretenimento, esporte, aprender um instrumento musical ou retomar algum hobby que você deixou de lado. Algo motivado só por prazer, sem outras considerações. E, se já tem esse algo, desejo que ele te proporcione muito contentamento no próximo ano.

Filmes favoritos em outubro de 2022

Recentes

Prisioneiros (2021): o tema é o trabalho em condições análogas à escravidão e o subtexto é o homem sendo lobo do próprio homem. Rodrigo Santoro excelente. A sonoplastia ruim tira uma estrela do filme. 4 estrelas

Argentina, 1985 (2022): nem todo herói usa capa, e o promotor Julio Strassera está aí para provar, assessorado por uma turma de jovens dedicados. A história real do julgamento de nove militares que governaram a Argentina durante a ditadura. Emocionante. 5 estrelas

Uma Garota de Muita Sorte (2022): entre o presente e o flashback, a história traumática de Ani é contada. Algumas cenas podem ser consideradas fortes, mas o filme está longe de ser apelativo. Dica da @smiletic. 4 estrelas

Kung Fu Panda (2008): animais fofos e uma história bem contada – como não gostar? Menção especial para a cena do Po disputando o último dumpling com seu mestre. 5 estrelas

O Nevoeiro (2007): um nevoeiro denso cai sobre uma cidadezinha, e coisas horripilantes se escondem, prontas a atacar. Baseado em uma novela do Stephen King, é um desses casos em que o filme é melhor que o livro. 4 estrelas

Direto do Túnel do Tempo

Nos Bastidores da Notícia (1987): uma produtora percebe que o telejornalismo está se vendendo ao puro entretenimento. Um repórter talentoso não é promovido por não ser midiático. Um âncora bonito e burro é bem-sucedido. Divertido e crítico ao mesmo tempo. 4 estrelas

Viagem ao mundo dos sonhos (1985): três garotos constroem uma espaçonave e vivem aventuras muito loucas. Filme infantil, mas divertidíssimo, há tempos eu não ria tanto com um filme. Um achado que a @soterradaporlivros me apresentou. 5 estrelas

Gandhi (1982): quase documental, narra os esforços de Gandhi para tornar a Índia um país independente e unificado. Eu desconhecia várias coisas, daí ter achado o filme interessante. 4 estrelas

Livros de Terror – Halloween 2022

Boo!

Morro de medo de histórias de terror, mas a @soterradaporlivros me convenceu a ler Hellraiser em outubro. Uma coisa levou a outra e acabei com uma listinha de livros em celebração ao halloween, que seria meu feriado preferido se eu morasse na metade de cima do mundo.

Hellraiser, de Clive Barker: terrorzão com um pé no gore e outro no sadomasoquismo. Frank é um vilão doentio, horrendo, mas os vilões de verdade são os cenobitas, que mal aparecem (não estou reclamando). Fiquei surpresa com a forte presença feminina. Felizmente é curto, eu não aguentaria ler um calhamaço dessa história. Quem curte o gênero provavelmente fica com gosto de quero-mais. 4 estrelas

Invasores de Corpos, de Jack Finney: vi o filme de 1956 (excelente) e o de 1978 (tão bizarro que é ótimo), então estava mais que na hora de ler a história original. Em uma cidadezinha dos EUA, algumas pessoas não são mais elas mesmas, segundo os parentes. O que parecia histeria coletiva acaba se revelando uma invasão alienígena. O livro é de 1955 e tem uns trechos bem machistas, mas é uma ótima ficção científica e tem um desfecho muito mais satisfatório que os filmes. 4 estrelas

O Vampiro, de John William Polidori: um jovem ingênuo conhece Lord Ruthven, um aristocrata misterioso, sedutor e estranhamente envolvido em mortes violentas… Esse conto merece ser lido por duas razões: primeiro, porque nasceu junto com Frankenstein, de Mary Shelley, naquele conhecido episódio de tédio durante chuvas torrenciais que levou a uma brincadeira entre amigos escritores; segundo, porque foi uma das inspirações de Bram Stoker para compor Drácula que, por sua vez, inspirou as histórias contemporâneas de vampiros. 3 estrelas

Carmilla: A Vampira de Karnstein, de Joseph Thomas Sheridan Le Fanu: li Carmilla em maio, mas merece ser citado aqui porque foi também foi uma das inspirações para o Drácula de Stoker. Carmilla é uma vampira sensual, provocativa, sedutora. O autor é quase explícito e creio que só se conteve por causa da época em que escreveu (e porque, se desse vazão às fantasias, seria pornô e não terror). Para mim, é uma história infinitamente melhor que Drácula. 5 estrelas

Filmes: os melhores de março de 2022

Vinte filmes em abril, na tentativa de ver todos os indicados ao Oscar antes da cerimônia. Vai daí que só vi filmes recentes este mês, nada de túnel do tempo dessa vez.

Identidade: esse não foi indicado ao Oscar, mas devia ter sido. Na Nova Iorque do fim dos anos 20, uma negra se passa por branca, mas se reconecta com o passado ao reencontrar uma amiga de sua outra vida. Atuações excelentes. 4 estrelas

Attica: o documentário relata a rebelião de 1971 na penitenciária de Attica. Todas as mortes decorrentes foram pelas mãos dos policiais e nenhum deles foi condenado. Sim, lembra bastante Carandiru, mas em proporções menores – o massacre no Brasil foi muito maior. 4 estrelas

Cyrano: história contada e recontada, mas com uma forte carga dramática nessa versão. Peter Dinklage provavelmente teria sido indicado ao Oscar se o filme não fosse um musical. 4 estrelas

Sem Tempo para Morrer: não botei fé no Daniel Craig quando ele foi escolhido para encarnar o 007 e paguei a língua – seus filmes viraram meus favoritos da saga. A despedida é em grande estilo, com as traquitanas tecnológicas que amamos, pouca objetificação feminina (essa nova fase é muito melhor nesse quesito) e uma dose bem-vinda de drama. 4 estrelas

Belfast: não era meu favorito ao Oscar de melhor filme (era Ataque de Cães), mas é muito bom. Kenneth Branagh mostra, pelos olhos da criança que ele foi, os primeiros momentos do conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. 5 estrelas