Revendo Star Trek todinha

O espaço, a fronteira final. Estas são as viagens de uma trekker de carteirinha há mais de 30 anos, em sua missão de rever cada episódio de Jornada nas Estrelas, tomando notas, revivendo lembranças, fazendo conexões, criticando, divertindo-se, sonhando com um futuro melhor para a humanidade, audaciosamente acompanhando a série que foi aonde nenhuma outra jamais esteve.

Eu devo estar doida e não tenho a menor ideia se esse projeto terá futuro, mas bateu a vontade de rever todos os episódios de todas as séries de Jornada nas Estrelas.

Segundo a Wikipedia, existem 880 episódios de Star Trek, valendo lembrar que algumas séries estão em produção atualmente, então o número segue crescendo. Em um mundo ideal, eu veria um episódio por dia e acabaria em menos de três anos. Na vida real, já sei que posso até ter como meta ver um episódio por dia, mas em vez de dobrar a meta é mais prudente dividir por dois. Então, quem sabe em cinco anos eu consiga rever tudo.

Por que quero fazer isso? Por pura nostalgia, porque no último fim de semana vi The Inner Light, um dos melhores episódios de Star Trek já feitos (quinta temporada da Nova Geração), porque estou curiosa para ver como minha percepção sobre as histórias mudou, porque a maior parte dos episódios eu vi apenas uma vez. Certamente não é porque está sobrando tempo.

Como o Dia de Folga tem se tornado um repositório de memórias ao longo dos seus quase vintes anos de existência (vinte anos de blog, caramba), resolvi registrar a experiência por aqui. A ideia não é fazer um relatório, resumo ou ficha técnica de cada episódio (para isso, sugiro o excelente Memory Alpha), mas apenas escrever um ou dois parágrafos sobre as minhas impressões de cada episódio. Este aqui é um blog pessoal, afinal de contas.

Para não inchar o DdF de posts minúsculos e para evidenciar a conexão entre eles, resolvi fazer este post de referência e as anotações serão postadas em páginas que não aparecerão na página principal, mas serão atualizadas a cada novo episódio visto e linkadas aqui.

Que comece a viagem!

A Série Clássica (Star Trek: The Original Series, ou ST:TOS)

 

Livro: O Fim da Infância

Livro da vez: “O fim da infância”, de Arthur C. Clarke.

Em um lance digno de filme (usado, na verdade, em “Independence Day”), os aliens invadem a Terra – só que não vêm para destruir ou conquistar, mas para civilizar e estimular o progresso da humanidade. Karellen é o porta-voz dos ditos Senhores Supremos e fala por meio do Secretário-Geral da ONU.

A humanidade aceita a intervenção, mas um tanto desconfiada, especialmente porque os aliens nunca aparecem. Além disso, fica a dúvida: o que eles desejam de verdade? Por que tanto interesse na humanidade e no progresso da nossa civilização? O que está por trás disso? Seriam os deuses astronautas?

As respostas são surpreendentes. O desfecho é prenunciado, mas mesmo assim é impactante.

Clarke indica otimismo (até exagerado) pela evolução humana, mas também questiona: quando tudo está bem, o que acontece com o espírito de aventura? O ser humano precisa de conflito para criar?

E o maior questionamento permanece: qual o nosso lugar no universo?

Leitura de outubro do #lendoscifi, projeto maravilindo da @soterradaporlivros.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

Filme: 438 Dias

Filme da vez: “438 Dias”, produção sueca de 2019.

438 é o número de dias durante os quais dois jornalistas suecos ficaram presos na Etiópia sob a acusação de terrorismo. O filme é baseado em uma história real.

Em 2011, Martin Schibbye e Johan Persson decidiram investigar os efeitos da exploração do petróleo sobre a população de Ogaden, na Etiópia. Para chegar lá, cruzaram a fronteira com a Somália com a ajuda de um grupo que, depois, descobriram ser considerados terroristas no país vizinho. Foram presos pelo exército etíope e acusados de terrorismo.

Para piorar, descobrem que um figurão da política sueca tem envolvimento com a indústria petroleira que atua em Ogaden. Assim, não confiam que a diplomacia ou a política da Suécia agirão a contento para tirá-los dessa situação. Para alguns, acreditam, é melhor que fiquem presos em um país distante, talvez para sempre.

A Navalha de Hanlon diz que a gente não deve atribuir à malícia o que pode ser explicado pela burrice. Nem digo burrice, mas ingenuidade: como esses jornalistas resolveram que seria uma boa ideia entrar ilegalmente em um país, mais ainda um que não preza exatamente por instituições democráticas e não é conhecido pelo respeito aos direitos humanos? Como não pesquisaram antes sobre as pessoas a quem pediram ajuda para fazer o ingresso clandestino? Creio que isso seja fruto da confiança que cidadãos de certos países desenvolvidos têm nas suas próprias instituições e na ilusão que nutrem de que o restante do mundo funciona do mesmo modo (não é de espantar, sob essa ótica, a quantidade de turistas estrangeiros que é furtada assim que pisa no Rio de Janeiro).

O filme é dinâmico, tenso e parece bastante realista. O ponto de vista é o dos jornalistas, o que, claro, pode levar a um certo viés. A discussão central é a da liberdade de expressão e da imprensa livre, temas que seguem atuais e relevantes.

A distribuição do filme no Brasil é da distribuída pela @a2filmesoficial e já está disponível nas plataformas digitais.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Ruído – uma falha no julgamento humano

Livro da vez: “Ruído: uma falha no julgamento humano”, de Daniel de Daniel Kahneman, Olivier Sibony e Cass R. Sunstein.

Kahneman, Prêmio Nobel de Economia e autor de “Rápido e Devagar” (eternamente na minha listona) reuniu-se com outros dois professores para apresentar um grande livro, provavelmente mais um bestseller.

É senso comum que o viés em um julgamento frequentemente confirma e reforça preconceitos. Empresas e governos conscientes tentam reduzir o viés em seus julgamentos – seja em processos judiciais, nos diagnósticos médicos ou na contratação de empregados. Mas e quanto ao ruído, ou seja, à variabilidade em julgamentos que deveriam ser idênticos e que não é motivada por um viés, mas pela falta de escalas e de padrões confiáveis? É esse problema que os autores estudam no livro, e salientam: o ruído é onipresente, os custos que ele gera são altíssimos e deveríamos estar preocupados em reduzi-lo.

Os autores apoiam sua defesa pela redução do ruído em estatísticas e pesquisas comportamentais. Em certos momentos, o livro fica denso (especialmente para quem não tem familiaridade com estatística), mas os autores percebem e apoiam o texto em uma série de exemplos e exercícios que facilitam a compreensão.

Algumas das conclusões podem chocar, como a constatação de que até um algoritmo simples é mais confiável que o julgamento humano. Ora, você pode pensar, mas e os casos de discriminação causados por algoritmos? Os pesquisadores argumentam que são pontuais e evitáveis, e defendem o aprimoramento dos algoritmos, não o seu descarte.

Do ponto de vista humano, insistem na adoção de treinamento e técnicas capazes de diminuir o ruído e argumentam que discricionariedade, criatividade e intuição não deveriam ser cultuadas quando claramente produzem erros a um alto custo.

Polêmico? Pode ser, mas os argumentos são tão bem apresentados que, mesmo que você queira refutá-los, terá trabalho.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas