Depois que morre, todo mundo vira bonzinho…

…até o Saddam Hussein.

Desde o seu enforcamento por crime contra a humanidade, em trinta de dezembo passado, líderes políticos pelo mundo afora vêm criticando a condenação do ex-ditador iraquiano. Mais ainda: organizações de defesa dos direitos humanos protestam contra o julgamento e a execução de Saddam. É politicamente correto repudiar o fim que foi dado a ele.

Ora, bolas. O sujeito foi um dos maiores violadores dos direitos humanos da história recente mundial. As barbáries que o Saddam Hussein perpetrou ao longo de quase vinte e cinco anos no poder são incontáveis. Será que as tais organizações pelos direitos humanos não têm mais nada o que fazer, nenhuma outra bandeira a defender? Será que não existem causas infinitamente mais justas ao redor do globo?

Não cabe, aqui, a discussão sobre a correção moral da pena de morte. Decidir por incluí-la entre as possíveis punições é ato soberano de cada nação. Ela é prevista na legislação iraquiana, e ponto. Saddam foi julgado por seus pares, ou seja, por um tribunal iraquiano (especificamente, pelo Alto Tribunal Penal Iraquiano) e executado segundo as leis do país. Até se pode aproveitar o caso para discutir a pena de morte abstratamente (aceita por vários países e rejeitada por outros tantos), mas criticar a sua aplicação no julgamento de Saddam é misturar alhos com bugalhos.

Nesse história toda, só lamento as provocações lançadas pelos carrascos contra o condenado, não por ter pena dele, mas por considerar indigno o comportamento de pisar em quem está caído. Ou de chutar cachorro morto.