O metrô de Paris nas telas

Metrô de Paris
Mapa do metrô de Paris. Clique para ampliar.

Não nas telas de cinema, mas nas telas pintadas por Gérard Fromanger.

Quem já viu um mapa do metrô de Paris reconhece o embaralhado de cores que cortam toda a cidade. Gérard Fromanger viu ali inspiração para uma série de pinturas em que as linhas se fundem às pessoas que se fundem à paisagem urbana. As cores são fortes, primárias. As pessoas são representadas por silhuetas nitidamente recortadas do fundo. O fundo são cenas urbanas interessantes em si mesmas, recriadas a partir de fotografias projetadas na tela.

A exposição A Imaginação no Poder (que integra a celebração do Ano na França no Brasil) apresenta essa série como ponto de partida e pode ser vista no CCBB de Brasília até dia 15 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 21 horas (entrada franca). A mostra traz, ainda, outros quadros do autor, como retratos de filósofos com quem ele conviveu. São 69 obras, ao todo.

Apesar do apelo à imaginação, tudo é muito concreto nas pinturas de Fromanger. Sua escola, conhecida como “Nova Figuração” ou “Figuração Narrativa”, era uma reação à pintura abstrata e, embora faça uma interpretação da realidade, não a desfigura – ao contrário, torna-a ainda mais objetiva. O engajamento político também é constante e pedaços da história podem ser encontrados nas pinturas, como uma manchete de jornal condenando a Guerra do Yom Kippur (1973).

Criador e criatura.
Criador e criatura.

Vá com tempo suficiente para assistir ao vídeo de cerca de 20 minutos que traz uma entrevista sensacional com Fromanger. Rever a exposição logo após ouvir o artista lança novos tons sobre as obras, contextualiza historicamente seu criador e torna o passeio muito mais rico. Fromanger viveu os conturbados anos 60 em Paris ao lado de artistas e pensadores como  Jean-Luc Godard, Gilles Deleuze e Félix Guattari. Influenciou e foi influenciado por eles.

Outra boa razão para dedicar tempo ao vídeo é ver a pintura feita em 1991 com inúmeros ícones culturais e, no meio deles, as duas torres do World Trade Center tombadas e cobertas de sangue. Profecia? Para Fromanger, era simplesmente a interpretação da Guerra do Golfo dos anos 90, com a projeção lógica das suas consequências.

Também vale ouvir a explicação sobre como buscar inspiração para preencher a tela branca: “a tela é negra, eu preciso esbranquiçá-la”. O artista deve escolher, entre milhares de possibilidades, o que deseja retratar, excluindo todas as outras alternativas, “limpando” a tela.

Foto: Wikipedia, Creative Commons.

Uma volta ao/pelo CCBB

Imaginar é como respirar: basta fechar os olhos e deixar o pensamento voar.
A gente vai junto na música do vento e vira pensamento.
(Darlan Rosa)

Houve um tempo em que o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de Brasília fazia parte do meu cotidiano. Era rotina sair do trabalho e passar por lá para uma sessão de cinema, gastar uma tarde de domingo entre as exposições ou apenas sentar num canto e ler alguma coisa.

Por razões que a própria razão desconhece (mas desconfio que o trânsito cada vez pior e o trabalho cada vez maior tenham forte peso), há uns dois anos não passava por lá. Hoje, domingo de sol, feriadão, cidade vazia, lá fui eu, munida de câmera fotográfica e umas horas livres.

Projeto Casulo - CCBB de Brasília
Projeto Casulo: arte interativa.

Há exposições temporárias bacanas em cartaz, mas falo delas depois. A maior surpresa, pra mim, nem é novidade para os frequentadores mais assíduos: em comemoração aos 200 anos do Banco do Brasil, celebrados em 2008, o jardim externo do CCBB ganhou uma exposição permanente chamada Casulo, composta de esculturas interativas feitas por Darlan Rosa (o mesmo das “bolas” em frente ao Memorial JK).

O projeto tem quatro estruturas de aço que despertam a curiosidade dos adultos e formam um parquinho pra criançada. A proposta é simples: aproximar arte e público por meio da interatividade, da brincadeira. É o lúdico a serviço da formação de um público para as artes, desde a infância (clique para ver a foto aumentada):

Projeto Casulo - CCBB de Brasília Colmeia Lagarta Navete
Casulo, colmeia, escorregador da lagarta e navete.

À noite, as peças ganham luzes coloridas.

Uma ótima dica de passeio neste Dia das Crianças ou em qualquer tarde ensolarada. Ah, a entrada é franca.

Em tempo: o Banco do Brasil fez 200 anos em 2008 e o CCBB comemora 20 anos agora, em 2009. Para celebrar, esta semana entra no ar o blog CCBB 20 anos, que conta também com a minha participação.

Morreu Athos Bulcão

O mais brasiliense de todos os cariocas morreu hoje de manhã, em decorrência de complicações provocadas pelo Mal de Parkinson. O artista plástico Athos Bulcão tinha 90 anos, 50 deles vividos em Brasília. Chegou aqui como pioneiro, em meio ao nada feito de terra vermelha e árvores retorcidas. Aqui será enterrado, em respeito à sua vontade.

O primeiro trabalho marcante na longa carreira de Bulcão foi como assistente de Candido Portinari (de quem foi aluno) na elaboração do mural da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha (Belo Horizonte – MG) (clique para ampliar):

Detalhe da Igreja de São Francisco de Assis

Em Brasília, Athos Bulcão quebrou a monotonia do concreto de Niemeyer, dando vida e cor a vários prédios que, sem sua arte, seriam tão áridos quanto o cerrado. Seus trabalhos mais conhecidos são em azulejaria mas, mesmo quando lidava apenas com o branco-concreto, conseguia enriquecê-lo, como na fachada do Teatro Nacional (clique para ampliar):

Teatro Nacional - na lateral à esquerda, os blocos concebidos por Athos Bulcão

Bulcão foi um artista democrático. Seu trabalho não está trancado em museus, mas exposto nas ruas, integrando o dia-a-dia dos habitantes de Brasília, muitas vezes de forma imperceptível.

Visite o site da Fundação Athos Bulcão ou faça uma pesquisa usando o Google Imagens para ver mais obras desse excelente artista plástico.